terça-feira, 5 de novembro de 2013

De Ubá para os octogonos do mundo: A trajetória de Antônio Paulo Branjão até virar o “Montanha”

Filho de uma família de classe média, Antônio Paulo Branjão veio de Colinas do Tocantins (TO) para Ubá(MG) com três anos. Até os 18 anos, ao lado de seu irmão, Gustavo Basílio, trabalhou na zona rural, ajudando seus pais sem se descuidar dos estudos.
Entretanto, foi aos 16 anos que Antônio conheceu as artes marciais. Convidados por um amigo, Antônio e seu irmão seguiram para uma academia próxima de sua casa para uma aula experimental de Muay Thay. “Eu não tinha muita facilidade em esportes coletivos. Até porque não gostava de perder. Quando conheci as artes marciais me encontrei. Afinal, o resultado dependia, exclusivamente, de mim. Isso me motivava a buscar o aperfeiçoamento da técnica para sempre conseguir me superar”, disse.
Com os treinamentos de artes marciais, Antônio passou a ser Montanha e foi se destacando. Aluno aplicado, foi se graduando e percebeu que, para crescer anda mais no esporte, era necessário aprender outras artes. Foi assim que começou a treinar Jiu-Jitsu. “Algumas pessoas que treinavam uma determinada arte marcial, falava mal de outra. Eu percebi que era o contrário. As artes marciais se completam. Principalmente para os atletas de MMA”, enfatizou.
A dedicação às duas artes marciais proporcionou ao empreendedor Antônio Montanha a abrir sua própria academia. “Como já estava crescendo muito nas duas artes marciais, e teve a 'explosão' do MMA, comecei a me ligar mais a este estilo, e montei minha própria academia que era a única com o estilo inovador, o que acabou atraindo o publico jovem”, contou.
A dedicação aos treinos de Muay Thay e Jiu-Jitsu não demorou a render frutos ao jovem atleta. “Fui me graduando no Muay Thai e comecei a perceber que o Jiu-Jítsu era um complemento para meu mixer de artes marciais. Quando comecei a treinar as duas artes, comecei a crescer e a obter vários resultados expressivos, o que me abriu várias portas”.
Mas Montanha sentia falta de algo. Eventos como o UFC e o Bellator foram a inspiração que ele precisava para criar um evento em Ubá. “Com o passar do tempo, percebi que faltava algo. Eu precisava fazer algo pelos atletas de Ubá. Foi assim que nasceu o 'Ubá Fight'. Os nossos atletas obtiveram resultados muito positivos. Após o primeiro evento, a região aderiu e outros foram organizados, como em Viçosa, por exemplo”.
Dos tatames da Zona da Mata mineira para o Rio de Janeiro
A chegada ao Team Nogueira foi quase por acaso, não bastasse o talento do jovem lutador ubaense. Ao acompanhar um atleta de sua academia até as seletivas do The Ultimate Fighter Brasil (TUF), Montanha encontrou seu atual empresário que o levou para o Team Nogueira. “Fui acompanhar um atleta, Aschely Haila, até a seletiva do TUF Brasil. Foi neste evento que eu encontrei com o Alex Davis, que hoje é meu empresário. Ele apostou em mim. Agradeço muito a ele por me oferecer esta oportunidade e pela confiança que ele transmite”.
 Um dos momentos cruciais para a permanência de Antônio Branjão foi um treinamento que realizou ao lado do atleta do UFC e ex-campeão do Strikeforce Rafael Feijão. Apesar de ser menos experiente, Montanha fez um sparring de alto nível com o já consagrado meio-pesado, o que agradou os treinadores do Team Nogueira. Outro fator preponderante foi a personalidade humilde do atleta, que cativou a todos na equipe.
"Todo lugar em que chegamos, temos que chegar tranquilos, buscando fazer amizades e realizar bons treinos. Sempre busco me espelhar nos melhores, como Anderson Silva, Minotauro, Minotouro, Rafael Feijão, e assim ir conquistando meu espaço. Depois dessa vitória me sinto mais firme no time", lembrou.
De acordo com Montanha, o início foi difícil. “No começo não foi fácil. Quando chegamos a um time grande, como o Team Nogueira, temos que lutar por uma vaga, por um 'lugar ao sol'”. Hoje, já mais acostumado, ele explica que várias pessoas chegam ao centro de treinamento da Team Nogueira e nem todos ficam. “Vemos o 'corte' acontecer naturalmente: quando chega uma pessoa nova, alguém vai ter que ceder espaço pra que ela fique. O time é completo. Então pra um entrar, um tem que sair”, falou. Mas segundo Montanha, estes acontecimentos fortalecem os atletas. “Este é um processo natural. Isso faz com que todos nos esforcemos diariamente para garantirmos uma vaga em um time que conta com nomes como Minotouro e Minotauro”.
As dificuldades, conta Montanha, são muitas. Mas a determinação é seu principal combustível para que ele possa alcançar seus objetivos. “No início passei muitas dificuldades. Ainda acontecem alguns percalços devido à falta de patrocínios. Mas procuro sempre acreditar em três palavras: foco, força e fé (FFF). Continuo batalhando, sempre, para que quando eu chegar a um evento legal (UFC, Bellator), eu possa representar a minha cidade e o meu país da melhor maneira possível”.
Sobre a falta de incentivo de alguns empresários, ele diz que, para o desenvolvimento do esporte e para que as crianças tenham uma perspectiva de vida melhor, seria fundamental o investimento em esportes. “Ubá possui grandes empresas, conhecidas em todo o território nacional. Estas empresas poderiam valorizar os atletas ou até mesmo apoiar um projeto que envolva as artes marciais. Nossas crianças poderiam estar participando de programas sociais com a contribuição de empresários, mas algumas não têm esta chance. A arte marcial ensina disciplina, humildade e outros valores que estão se perdendo”, explicou.
Montanha falou sobre a falta de incentivos encontrados por atletas de ponta que estão no interior. “No interior, infelizmente, o atleta de artes marciais não é muito valorizado. Nos grandes centros urbanos, os atletas são reconhecidos. No Rio de Janeiro, temos fisioterapeutas, preparadores, treinadores, o nosso fisiologista é do flamengo, temos um corpo clínico completo à nossa disposição. Já no interior as artes marciais não são tão reconhecidas. Não estamos no octógono brigando, mas praticando um esporte. É preciso que todos tenhamos mais incentivos”, completou.
Aproveitando o assunto, Antônio aproveitou para parabenizar a iniciativa do poder público de sua cidade natal por manter um projeto social voltado para as artes marciais. “A prefeitura de Ubá está de parabéns pela iniciativa do projeto Karatê Cidadão. São quase 300 crianças atendidas pelo programa. Quando a criança está no esporte, ela não tem cabeça pra se envolver com coisas que a tirem do caminho correto. Este tipo de iniciativa é fundamental para o desenvolvimento do esporte e de quem o pratica”, afirmou.
Sobre sua adaptação ao Rio de Janeiro, ele conta que teve dificuldades no início, mas os amigos o ajudaram a superar mais um obstáculo. “No inicio foi difícil a adaptação, mas com o tempo fui conhecendo pessoas como Jorge Eduardo Zumbi, Leandro Higor, Itamar Rosa, Rosimar Palhares (Toquinho), Janailson Kelvin (Jubileu), Mauricio Reis, Everaldo Penco, meu preparador físico Claudio Pavanelli, meu empresário Alex Davis, entre outros, que me apoiaram a dar continuidade à minha carreira”.
Ele aproveitou para contar como é treinar com atletas conhecidos mundialmente como Anderson Silva e Minorauto. “Nosso treinamento é muito pesado. Passamos três meses treinando para uma luta que será decidida em três rounds de cinco minutos cada. Tenho treinado muito com o Anderson Silva, contribuído para a luta dele com o Chris Weidman. O Minotauro é um cara sem explicação, um exemplo de superação. Mesmo com uma lesão no braço, e apesar de não poder treinar, ele já está no centro de treinamento, falando, orientando. Isso nos impulsiona, nos motiva”, disse.
“Esses caras são campeões que admiro e me espelho muito neles para crescer no esporte. Eles são exemplos de determinação, persistência e força de vontade para chegar ao topo. Às vezes é difícil de acreditar. Você para e pensa: estou treinando com o Anderson Silva, com o Minotouro, com o Minotauro. É complicado no início. Mas vamos aprendendo com o passar do tempo. Estes caras nos fornecem um leque de opções. Aprendo muito com eles. Não tem como não pensar em grandes eventos como UFC ou Bellator estando envolvido com grandes atletas como Minotouro, Minotauro e, Anderson Silva. Sempre penso que vou chegar ao mesmo lugar onde estão o Anderson e outros lutadores: o topo”, explicou.
No Rio de Janeiro, já integrado ao Team Nogueira, quis o destino que Montanha fizesse sua estreia em sua cidade natal. O evento? O Uba Fight 4. Seu oponente foi Felipe Canty. E, superando as expectativas, ele deu um verdadeiro show para os seus conterrâneos, nocauteando o seu rival aos 2m23s do primeiro round e conquistando a sua segunda vitória no cartel.
"Foi uma grande satisfação poder chegar lá em cima e representar a maior equipe de MMA do mundo. A expectativa era muito grande por se a primeira luta pelo Team Nogueira, mas posso dizer que não senti muita pressão. Treinamos com os melhores todos os dias, então quando subimos (no cage) nem nos assustamos. Mas graças a Deus deu tudo certo e eu consegui trazer essa vitória", disse o atleta à época.
Apesar do contato físico ser essencial ao esporte, Antonio ressalta que as artes marciais não devem ser vistas como violência. Ele diz que, sem o apoio de pessoas próximas, talvez não teria conseguido chegar ao patamar que está. “Nem todos concordam com o estilo de esporte, pelo fato de ter um grande contato físico e muitas vezes é visto como violência, porém pessoas com laços mais próximos à mim viram minha capacidade e me apoiaram à crescer no esporte”, relembrou.
Para os novos atletas, e principalmente para as crianças, Montanha deixa um conselho: “Eu trabalhei e cresci na zona rural. Acreditei no meu potencial e estou em lugar intermediário para a realização do meu sonho. Temos que ter foco. É preciso querer e acreditar que podemos chegar às nossas metas. O mundo nos oferece muitas coisas. Mas é preciso termos discernimento. Quanto mais difícil o caminho, mais merecido é a conquista almejada. As dificuldades nos faz crescer. Espero que acreditem sempre em seus sonhos, sem se desviarem dos objetivos, com fé em Deus. Desta forma farão a diferença na vida, sendo vencedores”.
Ao fim da entrevista, Montanha parabenizou a Revista Samuray. “Parabenizo a todos pela iniciativa da Revista Samuray. É muito importante divulgar as artes marciais e os nossos atletas. É fundamental que os atletas tenham o incentivo e apareçam. Não somente em conquistas. A Samuray será fundamental para o desenvolvimento e valorização dos atletas da nossa região”, finalizou.