Inspiradas pelos pais, pelos desenhos animados ou
pelos filmes, as crianças se interessam cedo pelos esportes de luta. Os
movimentos variados realizados durante a prática do esporte podem favorecer o
desenvolvimento dos pequenos, além de trazer benefícios psicológicos, como a
possibilidade de enfrentamento e o controle da agressividade. Doutor em
ciências do esporte, Alexandre Drigo, acredita que é preciso que os pais se
preocupem com a formação dos instrutores para que esses benefícios se
concretizem de fato. “Eles devem cobrar uma formação coerente com a proposta
oferecida e o comprometimento com a saúde da criança”, afirma o também
professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
É comum que o comportamento aprendido com os
mestres seja levado para o cotidiano da criança. Por isso a importância de
encontrar instrutores que tenham uma boa preparação, saibam ensinar valores
positivos e estimular os alunos contra a violência. “A criança aprende pelo
exemplo. Se o professor for justo e correto, e os pais, respeitosos, ela também
será. A violência atribuída a lutadores sempre esteve atrelada ao ambiente a
que são expostos”, afirma Drigo. “A criança absorve o que é dito e traz para
casa, por isso é importante procurar um professor que não incentive a violência
e esteja comprometido com o desenvolvimento das crianças”, explica Sensei
Wagner Gomes, Coordenador do projeto Karatê Cidadão (Ubá/MG), lembrando que o
fato de o instrutor ser bem-sucedido no esporte não é garantia de que ele seja
um bom instrutor para crianças. “Nem sempre um grande esportista tem a formação
pedagógica necessária para trabalhar com a infância”, alerta.
A presença e o acompanhamento dos pais nas
atividades dos filhos também são fundamentais para que o aprendizado de um
esporte de luta não se torne um problema para a família. “É preciso o
acompanhamento para que os pais possam explicar, desde o começo, os motivos de
praticar o esporte, que não é para violência, brigas, pois há o risco de a
criança se tornar violenta”, pondera Sensei Wagner.
Crianças que não têm o acompanhamento devido podem
utilizar o que aprendem nas academias de luta para atividades violentas e
inadequadas. “Há uma tendência na nossa sociedade de a educação ser
terceirizada, mas os pais precisam entender que têm de estar próximos dos
pequenos”, completa Eliza Kozasa, neurocientista do Instituto do Cérebro do
Hospital Israelita Albert Einstein e também instrutora de aikidô pela federação
paulista do esporte.
A disciplina aprendida dentro do tatame reflete-se
ainda no desempenho das crianças no colégio. As artes marciais são, além de
tudo, uma maneira de aumentar a proximidade com os filhos e tornar os vínculos
mais fortes entre eles.
As crianças tornam-se mais centradas e
disciplinadas desde quando passam a se dedicar com afinco às artes marciais.
Aprender princípios que fazem parte da filosofia das artes marciais, como
respeito, disciplina e autocontrole, é um dos grandes benefícios desse tipo de
atividade. “Trabalhar os esportes de luta, também para educação, é muito
importante. Transmitir esses valores, o respeito, o conhecimento dos próprios
limites pode ser mais importante do que apenas ensinar técnicas”, afirma Wagner
Gomes.
O ensino e a prática das artes marciais para
crianças precisam sofrer adaptações, que vão desde mudanças nos exercícios e
golpes ensinados até técnicas utilizadas pelos professores para prender a
atenção dos pequenos. As lutas precisam ser pensadas de acordo com a idade dos
alunos a fim de que os riscos de lesões sejam reduzidos ao máximo possível.
As artes marciais não foram criadas pensando no
desenvolvimento da criança e, nem sempre, são baseadas em princípios que
condizem com os que hoje são vistos como recomendáveis pela sociedade. Por
esses motivos, o ensino de artes marciais deve ser repensado didática e
pedagogicamente para se adaptar à infância. Só assim podem ser mediadoras de
valores éticos de cidadania e de bem-estar para a infância.
Para fazer com que crianças e adolescentes
mantenham o interesse pela prática de esportes de luta, os professores recorrem
a ferramentas de ensino que vão além do simples aprendizado da técnica.
Brincadeiras e conversas específicas são recursos que ajudam a deixar a atividade
mais próxima do universo infantil.