Ele tinha 32 dias quando nos
conhecemos. Foi amor à primeira vista, à primeira lambida, ao primeiro olhar. Empinou
o focinho, me olhou nos olhos, rosnou e sorriu. Foi assim. Lembro como se fosse
hoje.

Durante 60 dias dormimos juntos,
dividindo um colchão no chão da sala, para nos acostumarmos um com o outro.
Brigamos, brincamos... fizemos de tudo neste tempo... Ô saudade dele
pequenininho... Entrava no carro e corria para o meu colo. Gostava de dirigir!
Colocava as patinhas no volante e me olhava como quem dizia: - Vamos!
Sabe quando você tem a certeza de
que algo ou alguém te completa. Sim. Esta é a mais simples tradução do que
tínhamos. Ele era meu filho, um pedaço de mim, o melhor pedaço, a minha metade
mais perfeita.
Durante 11 anos fomos nós dois
contra o mundo. Algumas pessoas chegaram, outras saiam, mas éramos sempre nós
dois. Indissolúveis, inseparáveis. Um ao lado do outro. Sorríamos juntos, chorávamos
juntos, nos consolávamos. Porto firme, ponto forte um do outro. Sempre nos
protegemos, nos cuidamos. Éramos nós dois contra o resto.

O dia amanheceu chuvoso. Ele
descansou. Sentia muitas dores. Brigamos juntos o quanto pudemos. Não
desistimos e enfrentamos juntos todos os momentos. Quando ele se foi, eu estava
lá... senti ele indo... e eu ali, fraco, impotente, sem poder ajudar meu melhor
e maior amigo... meu Deus... quanta dor...
Meu bebê, meu filhotinho, meu filho,
meu cachorro, meu grandão, meu amigo, meu monstrinho, meu amor... A dor, talvez,
passe um dia... não ter você pra passear, pra conversar, pra me aconselhar, pra
me olhar nos olhos e dizer: se nada der certo, eu estou aqui, com você!

Talvez um dia o arco íris volte a
ser colorido. Talvez um dia o mundo volte a fazer sentido! Talvez um dia eu
volte a sorrir. Mas nada disso com o mesmo brilho de antes. Foi assim, em um
dia cinza (15/05/2018), que eu parei de ver as cores.