terça-feira, 5 de novembro de 2013

Karatê adaptado: inclusão através do esporte

Mais do que lutar, o Karatê tem como intuito desenvolver mente e corpo em estado de equilíbrio e aperfeiçoar o caráter dos praticantes. Há quatro anos, o professor do estilo Shotokan, Teófilo Piau, adaptou o esporte para cadeirantes, nas cidades de Patos de Minas e Presidente Olegário. A iniciativa ganhou espaço e, além de diminuir preconceitos, motivou ainda mais os atletas que não têm deficiência.
“A ideia veio na época em que eu cursava educação física e fiquei interessado pela matéria sobre portadores de necessidades especiais e resolvi adaptar a técnica à realidade deles”, disse Piau.
Apesar dos alunos serem cadeirantes, o professor ministra quase toda a aula em pé. Alguns movimentos ele faz sentado para sentir as limitações dos alunos. “É muito gratificante, pois, a garra que eles têm e a vontade de superar obstáculos é enorme. Eles são um estímulo para os outros atletas de competição, devido a grande vontade e dedicação que têm para aprender”, contou Teófilo.
O técnico da Seleção Mineira de Karatê, de Uberlândia, Roney Vitor, acredita que o esporte traz uma transformação social e educacional com base no poder de superação. A modalidade para cadeirantes ainda é nova no Brasil, porque há poucas academias que atendem pessoas com deficiência. Contudo, uma prova de que a modalidade conquista espaço foi a aceitação da Federação Mineira de Karatê (FMK) em incluir disputas da categoria Portador de Necessidade Especiais (PNE) em seu calendário oficial de competições. A categoria especial e conta pontos para o ranking oficial.
“As principais mudanças foram a adaptação e a integração entre atletas de alto rendimento, pais e amigos junto aos atletas PNE. Eles aprenderam competir e passaram a vivenciar o espírito de equipe e o prazer da competição, seja na vitória ou na derrota. As atividades marciais são uma alavanca no ensinamento de superação de desafios. O ato de vencer está em superar nossas próprias limitações”, disse Roney.
Com a dor veio a oportunidade
Edvaldo Roberto Gonçalves, natural de Patos de Minas, não imaginava que seria carateca quando há quase sete anos caiu do quinto andar de um prédio. Ele trabalhava como pintor e com a queda teve lesões nas pernas e coluna, ficando com paraplegia parcial. Após o trauma, o atleta que hoje tem 32 anos praticou basquete para cadeirantes, mas descobriu no karatê uma verdadeira paixão.
“Eu jogava apenas o basquete sobre rodas em uma universidade da cidade quando o Sensei Teófilo me apresentou a modalidade. Eu gostei, pratico há cerca de quatro anos e estou indo bem melhor do que eu e ele imaginávamos. Não acreditava que cadeirantes podiam praticar o esporte até ser apresentado a ele”, comentou.
Edvaldo ganhou no total, 16 medalhas e dois troféus, sendo que três medalhas e os troféus vieram por sua dedicação e esforço nos exames de faixa. As demais foram conquistadas em campeonatos mineiros, na modalidade kata, que é a execução dos movimentos de luta.
“A união e a confraternização entre os atletas me fizeram ver a vida de outra forma. Eu melhorei a minha autoestima, coordenação motora e adquiri respeito por parte da minha família e da sociedade. Hoje, o meu maior prazer é seguir em frente lutando e correndo atrás do que é melhor para o bem de todos e ajudando aqueles que me cercam”, concluiu.
O colega de Edvaldo, Daniel Silva, é karateca há nove anos. Apesar da experiência, ele disse que aprendeu com as limitações do amigo e que vê nele um atleta inspirador. “É legal porque ele mostra que todos temos dificuldades e que estas podem sim ser superadas. A coragem e dedicação destes atletas refletem no nosso treino e dia a dia, pois, vemos que tudo depende, apenas, da força de vontade”, afirmou Daniel.
A modalidade tem dado tantos resultados que o trabalho do professor Teófilo Piau vai ser contado em um livro. A obra fala sobre pessoas com necessidades especiais que praticam algum esporte, em especial o karatê.
Edvaldo participou da 17ª Copa João Carlos de Godói, ocorrida em Ubá/MG, nos dias 21 e 22 de setembro. Ele participou da modalidade Kata e recebeu medalha de ouro no evento.