sábado, 28 de julho de 2018

A carência de hoje


O termo carência refere-se à falta ou privação de algo. Trata-se de um conceito que provém da língua latina (carentĭa). O verbo carecer, do latim carescĕre, significa ter falta de algo. Muitas vezes, uma carência física ou mental implica a existência de uma necessidade. Ou seja, as necessidades são aquelas situações nas quais o ser humano sente a falta ou a privação de alguma coisa. Quando o nível de carência é muito intenso, transforma-se em necessidade.
Apesar de estarmos cada vez mais conectados, não é difícil vermos as pessoas se dizerem carentes. Ao passo que as facilidades aumentam, crescem, também, as distâncias. Não, é simples entender o motivo.
A cultura do brasileiro inclui o toque, o abraço, o contato físico. Temos isso implícito e sentimos falta. Com a amplitude dos ambientes virtuais e, consequentemente, deste tipo de relacionamento, estamos nos permitindo a ausência das pessoas e de carinho.
Certamente que este sentimento de ausência é suprido pelos encontros (seja com as pessoas que desejaríamos ter naquele momento ou com outras). Entretanto, passado algum tempo, a carência retorna novamente.
Carência não significa que, necessariamente, é preciso estar em um relacionamento. Até por que estar em um relacionamento não denota a presença de fatores que nos causa carência. É possível estarmos sozinhos em um relacionamento, bem como sozinhos em meio a uma multidão.
Talvez que esteja ao lado, não perceba a necessidade do outro, ou talvez esteja ocupado demais, ou já está com o foco voltado para uma outra coisa. De certa forma, somos egoístas e temos atenção total voltada para as nossas necessidades. Talvez seja este um dos problemas, a falta de um olhar para o outro, seja ele um amigo, um ente, um cônjuge...
A rede mata nossa saudade. Estamos conectados uns aos outros. Nos falamos e observamos. Mas quando a carência chega, dificilmente é a rede que nos abriga. Como faz falta um abraço, um beijo, um aperto de mão, um olhar.
Estar sozinho ou em um relacionamento não garante que consigamos suprir a carência. Estar sozinho em um relacionamento não é incomum, e estar feliz sozinho também é bem normal. O que falta é um olhar com mais atenção. Em algumas vezes, apenas um abraço pode garantir um dia melhor para alguém. Um sorriso pode garantir a confiança necessária. Um beijo pode devolver o sentido.
A felicidade não dura eternamente. Temos momentos felizes. Mas o que custa tornar o dia de alguém mais feliz. Vamos distribuir sorrisos, nos preocupar com aqueles que nos rodeiam e tentar acabar com (um pouco) da carência que assola a todos.
De onde surgiu a ideia do texto? Hoje (27/07/2018), dia da lua de sangue, me deu saudade do fim de semana passado. E olhando a lua, bateu a carência daquele abraço, do toque, enfim.

A diferença está em nós

Eu vim de Aruanda. Esta é minha origem, não tem como negar. O ecoar dos tambores, o entoar dos Ogans, o chamado dos Orixás. Isto preenche meu vazio, arrepia todo o corpo, traz sentido aos mistérios... Não. Este não é um texto religioso, é compartilhamento de experiências.

Não é segredo de que a perda do meu filho (Rocky, meu rotweiller) me fez desanimar e desistir de muita coisa. Natural, afinal ele dava grande sentido à minha humilde encarnação, trazendo-me alento e conforto com seus olhares, lambidas, abraços, mordidas, patadas, rosnadas...

Não há nada mais natural que, após uma grande perda, exista um enorme vazio. Mas já dizia Kardec: “O acaso não existe”. Em anos de prática de Karate, o Zen Budismo me acompanhou e ensinou muito. Mas eu não estava preparado para esta perda. Acho que ninguém está.

Para quem não acompanhou: cresci no catolicismo. Conheci as religiões de matriz Africana e me apaixonei. Pratico o Zen Budismo. Já estive em várias Igrejas evangélicas. Ou seja, não restam dúvidas de que Deus existe. O que existe é a falta de crença mesmo.

E foi em um convite descompromissado que O reencontrei. Convidado para participar do “Cerco de Jericó”, em uma Igreja Católica, lá fui eu. Afinal, eu só tinha a ganhar. Banho tomado, partiu Igreja.

É estranho para um Umbandista, mesmo tendo crescido no catolicismo, entrar em uma Igreja. Os olhares preconceituosos, as músicas, o sacerdote... tudo muito diferente. Mas não demorou muito para que eu entender o que fazia ali.

Já no início da celebração, a fé de uma Igreja que cantava em alto e bom som todas as músicas, e que vibrava boas energias eram nítidas. Chegou a arrepiar. E quanto mais o padre seguia adiante com o sermão, parecia que falava diretamente a mim.

Lembrei, por diversas vezes, de como me arrepiava em um terreiro, de como as conversas com os guias me acalmam, de como os passes nos deixam leve, de como os pontos e os tambores me arrepiam...

Mas foi naquela Igreja que alcancei a paz que precisava. Depois de um ano complicado, mudança de estado, de trabalho, de sonhos, de vida... Eu estava realmente perdido, e foi ali que me vi novamente. E quando ouvi o convite, ainda brinquei: “Ok, vamos lá cercar o Jericó”.

E no final da semana, o cerco foi vencido, as muralhas foram sendo derrubadas e as batalhas vencidas uma a uma. Claro que existem várias lutas pela frente, muitas batalhas ainda serão enfrentadas. Mas uma de cada vez. O mais importante, foi me reencontrar com Deus. Reafirmar minha fé nos Orixás. Ter certeza dos ensinamentos de Buda. Encontrar com Jesus.

E para os preconceituosos de plantão, é preciso entender que não existe uma verdade absoluta. Cada pessoa é feliz com a sua prática religiosa. Se eu tenho mais de uma, ótimo. É perfeito pra mim. Sinal de que não me canso de ter fé. E como diz Alexandre Pires: “Deixa que digam, que pensem que falem... Já diz o ditado, Quem cala consente... Se Deus é por nós, quem será contra a gente... Tô com sangue nos olhos, transbordando de crença... Eu vim pra fazer a diferença”