quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Meus poucos amigos


Nunca tive muitos amigos. Amigos. Amigos mesmo. Daqueles que confiamos, que podemos falar sobre qualquer coisa, nunca fiz questão de ter muitos. Sempre acreditei que quantidade e qualidade não são coisas inversamente proporcionais ou símbolo de felicidade. Primei, sempre, por boas companhias, pessoas que acrescentam, independente da forma.
Talvez, por isso, quando perdi dinheiro e status, eu tenha me sentido tão só. E percebi, ainda, que minha avaliação sobre determinadas pessoas estava ainda mais sem nexo. Compreendi, então, que era necessário evoluir, assim como minha situação pessoal e profissional.
Muito do que passei, senão em sua totalidade, é fruto de minhas escolhas. Não é justo atribuir ao outro, suas próprias falhas. A permissividade com que tratamos alguns temas e pessoas em nossas vidas dita nosso norte, nossas escolhas, nosso caminho.
O aprendizado que obtemos na vida é fruto de nossas escolhas. Principalmente das escolhas erradas. Aprendemos mais na dor do que na felicidade. E isso é inerente ao ser humano. Mas precisamos estar atentos às consequências de nossas atitudes, justamente devido ao fato de ter que encará-las e assumi-las.
Não tenho muitos amigos e continuarei a não tê-los em quantidade. Buscarei sempre a qualidade das pessoas, o que elas podem agregar e vice-versa. De nada adianta estar na vida das pessoas e não contribuir em nada. É necessário buscar acrescentar positivamente, contribuir que seja, ao menos, com um sorriso.
Para estar na vida de alguém, não precisa muito. Basta estar disposto a ver e querer o bem-estar dela. Não precisa querer agradar, mas ser sincero. Carinho é essencial e todo mundo gosta. Amizade, companheirismo e carinho é essencial para qualquer tipo de relacionamento.

sábado, 28 de julho de 2018

A carência de hoje


O termo carência refere-se à falta ou privação de algo. Trata-se de um conceito que provém da língua latina (carentĭa). O verbo carecer, do latim carescĕre, significa ter falta de algo. Muitas vezes, uma carência física ou mental implica a existência de uma necessidade. Ou seja, as necessidades são aquelas situações nas quais o ser humano sente a falta ou a privação de alguma coisa. Quando o nível de carência é muito intenso, transforma-se em necessidade.
Apesar de estarmos cada vez mais conectados, não é difícil vermos as pessoas se dizerem carentes. Ao passo que as facilidades aumentam, crescem, também, as distâncias. Não, é simples entender o motivo.
A cultura do brasileiro inclui o toque, o abraço, o contato físico. Temos isso implícito e sentimos falta. Com a amplitude dos ambientes virtuais e, consequentemente, deste tipo de relacionamento, estamos nos permitindo a ausência das pessoas e de carinho.
Certamente que este sentimento de ausência é suprido pelos encontros (seja com as pessoas que desejaríamos ter naquele momento ou com outras). Entretanto, passado algum tempo, a carência retorna novamente.
Carência não significa que, necessariamente, é preciso estar em um relacionamento. Até por que estar em um relacionamento não denota a presença de fatores que nos causa carência. É possível estarmos sozinhos em um relacionamento, bem como sozinhos em meio a uma multidão.
Talvez que esteja ao lado, não perceba a necessidade do outro, ou talvez esteja ocupado demais, ou já está com o foco voltado para uma outra coisa. De certa forma, somos egoístas e temos atenção total voltada para as nossas necessidades. Talvez seja este um dos problemas, a falta de um olhar para o outro, seja ele um amigo, um ente, um cônjuge...
A rede mata nossa saudade. Estamos conectados uns aos outros. Nos falamos e observamos. Mas quando a carência chega, dificilmente é a rede que nos abriga. Como faz falta um abraço, um beijo, um aperto de mão, um olhar.
Estar sozinho ou em um relacionamento não garante que consigamos suprir a carência. Estar sozinho em um relacionamento não é incomum, e estar feliz sozinho também é bem normal. O que falta é um olhar com mais atenção. Em algumas vezes, apenas um abraço pode garantir um dia melhor para alguém. Um sorriso pode garantir a confiança necessária. Um beijo pode devolver o sentido.
A felicidade não dura eternamente. Temos momentos felizes. Mas o que custa tornar o dia de alguém mais feliz. Vamos distribuir sorrisos, nos preocupar com aqueles que nos rodeiam e tentar acabar com (um pouco) da carência que assola a todos.
De onde surgiu a ideia do texto? Hoje (27/07/2018), dia da lua de sangue, me deu saudade do fim de semana passado. E olhando a lua, bateu a carência daquele abraço, do toque, enfim.

A diferença está em nós

Eu vim de Aruanda. Esta é minha origem, não tem como negar. O ecoar dos tambores, o entoar dos Ogans, o chamado dos Orixás. Isto preenche meu vazio, arrepia todo o corpo, traz sentido aos mistérios... Não. Este não é um texto religioso, é compartilhamento de experiências.

Não é segredo de que a perda do meu filho (Rocky, meu rotweiller) me fez desanimar e desistir de muita coisa. Natural, afinal ele dava grande sentido à minha humilde encarnação, trazendo-me alento e conforto com seus olhares, lambidas, abraços, mordidas, patadas, rosnadas...

Não há nada mais natural que, após uma grande perda, exista um enorme vazio. Mas já dizia Kardec: “O acaso não existe”. Em anos de prática de Karate, o Zen Budismo me acompanhou e ensinou muito. Mas eu não estava preparado para esta perda. Acho que ninguém está.

Para quem não acompanhou: cresci no catolicismo. Conheci as religiões de matriz Africana e me apaixonei. Pratico o Zen Budismo. Já estive em várias Igrejas evangélicas. Ou seja, não restam dúvidas de que Deus existe. O que existe é a falta de crença mesmo.

E foi em um convite descompromissado que O reencontrei. Convidado para participar do “Cerco de Jericó”, em uma Igreja Católica, lá fui eu. Afinal, eu só tinha a ganhar. Banho tomado, partiu Igreja.

É estranho para um Umbandista, mesmo tendo crescido no catolicismo, entrar em uma Igreja. Os olhares preconceituosos, as músicas, o sacerdote... tudo muito diferente. Mas não demorou muito para que eu entender o que fazia ali.

Já no início da celebração, a fé de uma Igreja que cantava em alto e bom som todas as músicas, e que vibrava boas energias eram nítidas. Chegou a arrepiar. E quanto mais o padre seguia adiante com o sermão, parecia que falava diretamente a mim.

Lembrei, por diversas vezes, de como me arrepiava em um terreiro, de como as conversas com os guias me acalmam, de como os passes nos deixam leve, de como os pontos e os tambores me arrepiam...

Mas foi naquela Igreja que alcancei a paz que precisava. Depois de um ano complicado, mudança de estado, de trabalho, de sonhos, de vida... Eu estava realmente perdido, e foi ali que me vi novamente. E quando ouvi o convite, ainda brinquei: “Ok, vamos lá cercar o Jericó”.

E no final da semana, o cerco foi vencido, as muralhas foram sendo derrubadas e as batalhas vencidas uma a uma. Claro que existem várias lutas pela frente, muitas batalhas ainda serão enfrentadas. Mas uma de cada vez. O mais importante, foi me reencontrar com Deus. Reafirmar minha fé nos Orixás. Ter certeza dos ensinamentos de Buda. Encontrar com Jesus.

E para os preconceituosos de plantão, é preciso entender que não existe uma verdade absoluta. Cada pessoa é feliz com a sua prática religiosa. Se eu tenho mais de uma, ótimo. É perfeito pra mim. Sinal de que não me canso de ter fé. E como diz Alexandre Pires: “Deixa que digam, que pensem que falem... Já diz o ditado, Quem cala consente... Se Deus é por nós, quem será contra a gente... Tô com sangue nos olhos, transbordando de crença... Eu vim pra fazer a diferença”

segunda-feira, 11 de junho de 2018

O que fazer

O que fazer quando se sente perdido
Que nada faz sentido
Que o mundo não tem cor

Quando você tentar estudar
Acredita que deve trabalhar
Quando pensa que tudo terminou

Você até tenta mudar
Embora não consiga aceitar
Que a dor não acabou

E olha para o lado
Percebe o local esvaziado
Por mais pessoas que estejam ali

Tem gente querendo ajudar
Mas do caos não consegue se salvar
E tudo parece um pesadelo

Tudo o que você tem, é o escrever
E que sabe, alguém, talvez, possa ler
O que não está só no seu olhar

Pois sim, a tristeza está presente
Embora o sorriso da gente
Estampe uma máscara infinita

Aquela que todos acreditam
e faz com que, alguns, até reflitam
O quão vazio a vida pode ser

Estes são só alguns versos
Talvez, de um poeta controverso
Que não consegue se expressar

Linhas vazias de um pensamento
Que pensa a todo momento
Em qual vida levar

Certo é que desta vida não levamos nada
Apenas a memória daquela vitrola quebrada
Que não toca mais os versos da canção

Aquela que já não faz mais sentido
Mas, que em um lacrimejar escondido
Faz alegrar o coração 

Pode ser em Minas ou Vitória
No Espírito Santo, até Juiz de Fora
Já não existe mais este lugar

Em que encontre a paz cobiçada
Por tantas vezes, intensamente desejada
Mas sem nunca ter sido encontrada

Que a gente consiga localizar
O sentimento que todos querem encontrar
Que traz conforto ao coração

E que estes versos façam sentido
E que, por aí, encontrem abrigo
Que possa ser motivo de inspiração


*Há muito tempo eu não escrevia em versos... precisamente há 18 anos... espero que alguém goste!

terça-feira, 15 de maio de 2018

Foi em um dia cinza, que eu parei de ver as cores


Ele tinha 32 dias quando nos conhecemos. Foi amor à primeira vista, à primeira lambida, ao primeiro olhar. Empinou o focinho, me olhou nos olhos, rosnou e sorriu. Foi assim. Lembro como se fosse hoje.
Levei ele pra casa e, no caminho, paramos em uma sorveteria. Fizemos muitas fotos (mas se perderam com o Orkut). Ali na praça São Januário (Ubá/MG), caminhando em direção à estátua do Cristo, ele ganhou seu nome: Rocky! Não tinha como ser outro, tinham acabado de lançar o último filme do Rocky Balboa. Altivo, feroz, doce... ele precisava de um nome à altura.
Durante 60 dias dormimos juntos, dividindo um colchão no chão da sala, para nos acostumarmos um com o outro. Brigamos, brincamos... fizemos de tudo neste tempo... Ô saudade dele pequenininho... Entrava no carro e corria para o meu colo. Gostava de dirigir! Colocava as patinhas no volante e me olhava como quem dizia: - Vamos!
Sabe quando você tem a certeza de que algo ou alguém te completa. Sim. Esta é a mais simples tradução do que tínhamos. Ele era meu filho, um pedaço de mim, o melhor pedaço, a minha metade mais perfeita.
Durante 11 anos fomos nós dois contra o mundo. Algumas pessoas chegaram, outras saiam, mas éramos sempre nós dois. Indissolúveis, inseparáveis. Um ao lado do outro. Sorríamos juntos, chorávamos juntos, nos consolávamos. Porto firme, ponto forte um do outro. Sempre nos protegemos, nos cuidamos. Éramos nós dois contra o resto.



E agora ele não está mais aqui. Agora eu não posso mais apertar ele, morder sua orelha, provocar e sair correndo, jogar a bolinha, ter você em meu colo, te dar banho... fiquei incompleto. Perdi minha melhor parte. Aquele que por 11 anos esteve ao meu lado com um amor puro, incondicional, sempre me esperando com aquele olhar dizendo: - qual o motivo da demora?
O dia amanheceu chuvoso. Ele descansou. Sentia muitas dores. Brigamos juntos o quanto pudemos. Não desistimos e enfrentamos juntos todos os momentos. Quando ele se foi, eu estava lá... senti ele indo... e eu ali, fraco, impotente, sem poder ajudar meu melhor e maior amigo... meu Deus... quanta dor...
Meu bebê, meu filhotinho, meu filho, meu cachorro, meu grandão, meu amigo, meu monstrinho, meu amor... A dor, talvez, passe um dia... não ter você pra passear, pra conversar, pra me aconselhar, pra me olhar nos olhos e dizer: se nada der certo, eu estou aqui, com você!
Vai em paz, meu filho. Que Deus permita que eu possa te encontrar de novo. Obrigado por tudo que me proporcionou. Desculpa pelas minhas faltas. E saiba que meu amor por você, é eterno, tanto quanto a saudade que dói em meu peito. Te amo, Rocky!
Talvez um dia o arco íris volte a ser colorido. Talvez um dia o mundo volte a fazer sentido! Talvez um dia eu volte a sorrir. Mas nada disso com o mesmo brilho de antes. Foi assim, em um dia cinza (15/05/2018), que eu parei de ver as cores.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Tchau 2017, foi um prazer...

Sim. Está terminando 2017. Um ano cheio de vitórias. Não, não estou confundindo as palavras. Este foi, literalmente, um ano de vitórias. Um ano daqueles para que devemos esquecer. Nenhum detalhe. Todos devem e merecem ser lembrados.
Cada momento de 2017 foi um aprendizado. Tanto quanto 2016. Aliás, de uns anos para cá o nível de aprendizado foi aumentando e só agora me dei conta disso. A cada pequena (ou grande) queda, me foram apresentadas várias outras oportunidades. Umas simples e cômodas, outras bem complexas e demoradas. Como bom brasileiro, optei pelas tarefas mais difíceis.
A cada momento deste tempo passado, algumas pessoas foram aparecendo, trazendo outras e outras. Claro que nem todas permaneceram. Umas pouco ficaram. Algumas permaneceram.
Citando exemplos, posso falar do meu velho amigo Zé. O melhor deles. Sempre desconfiado e com seus tic’s. Mas sempre ao meu lado. Paralelamente, apareceram a Luluzinha, o novo Zé e o Henrique, tia paty, tia Gi, pretinha. Sem mencionar a esquisitinha (de JF) que eu mais gosto, a pequena, Gabeats, tia mimi, drink’s... Sim, somente eles serão capazes de saber que estou falando deles.
(Re) Aprendi a confiar nas pessoas. E a vida, que não tinha cores, começou a se mostrar novamente. As dores? Foram muitas. Mas nem por isso conseguiram me derrubar. Tem um ditado que diz que “aquilo que não me mata, me fortalece”. E eu achei a minha força nos amigos e no karate-do.
Mudanças aconteceram. Melhor ou pior? Não sei, foram necessárias. Foi necessário reaprender muita coisa. É como um novo nascimento. Foi necessário aprender a andar, a falar, a correr. Relembrar que a capacidade do discernimento era fundamental.
E quando achei que não tinha mais forças, aprendi que a puxada de rede não traz só o alimento do corpo, também alimenta a alma. Aquela prova cancelada, que foi remarcada. Aquele sonho apagado, reavivado. E aos poucos as forças voltam.
O dia a dia na Gym, o bate papo com a feiosa, os alunos, os treinos em Anchieta, as rodas (de samba e de capoeira), os passeios diários com o Rocky (meu amigo diário nos últimos dez anos – 70 no tempo dos cachorros, e espero que tenha mais 500). Colo de mãe e irmã. Abraços diários das sobrinhas.
Uma mistura de sentimentos tão intensa, que talvez seja difícil explicitar. Principalmente na solidão de um quarto branco, acompanhado de duas katanas e um saidan para Funakoshi. Uma nova medalha, meus gnomos, guias e livros.
Fui acolhido de uma maneira que não esperava, conheci pessoas, lugares, sabores, pôr do sol, ilha. Tudo novo de novo. A cada banho de mar uma experiência nova, seja solitário ou na companhia de tartarugas. Mas nunca deixando de lado aquele bate papo comigo mesmo. Eu falo, eu respondo, eu dou alternativas, eu acho a saída.
Eu achava que meu divã era o tatame. Afinal ele me acompanha desde os 9 anos. Mas descobri que ampliei as possibilidades, e que meu divã é o tatame sim, mas ainda tenho o mar e a roda. Minha análise diária me permite ser quem eu teimava esconder de mim, mas que não me cabia mais. Estava maior que eu.
Então sai de mim, deixando o jornalista, o karateca e o flamenguista incorporar o nadador, o capoeirista, o motociclista, o ciclista... Vários outros de mim, que talvez já existissem, mas que eu teimava em manter longe, sem saber o motivo.
Este texto não é para exaltar ou entristecer. É só um texto. Algo para demonstrar que, mesmo sem a total recuperação, é necessário exaltar a batalha. A valorização dos passos dados, mesmo que pequenos. É um texto para mostrar que sim, é possível acreditar que tem alguém lá em cima que tem planos maiores.
As cores da vida vão além de um arco íris. E quando o mar e o céu se fundem lá na frente, mostram que sempre vai haver um horizonte para quem tem esperança e sonhos. Que venha 2018 e traga um novo rumo repleto de bênçãos, de prosperidade, de vitórias, de conquistas...
Que cada conquista possa ser comemorada e que cada tombo seja respeitado diante do caminho a ser traçado. A vida é assim: feita de altos e baixos. Que sejamos capazes de enquanto estivermos no alto, manter os pés no chão. E caso estejamos em baixa, que possamos nos levantar com dignidade e respeito.
Como disse meu mestre, a candeeiro jogou uma corda e eu a peguei. Agora é hora de escalar. Voltar a acreditar e buscar a minha verdade. Aquela que deixei para trás. Mas que vou reencontrá-la, pode ter certeza. Aos poucos. Mas o importante é o fato de eu querer. E eu quero. Eu quero. Eu posso. Eu vou. Força. Foco. Fé.

Feliz 2018