segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O PODER DA COMUNICAÇÃO E A COMUNICAÇÃO DO PODER. UM ESTUDO DE CASO: “A VOZ DO BRASIL”.


O questionário foi constituído, na primeira parte, de uma avaliação sócio-econômica, em que perguntou-se sobre sexo, faixa etária, ocupação, renda familiar, quantas pessoas vivem desta renda, residência e escolaridade. Estas perguntas serviram para avaliar qual o perfil dos ouvintes de rádio e do programa “A Voz do Brasil”.
A segunda parte do questionário foi voltada para a introdução do tema deste trabalho (O poder da Comunicação e a Comunicação do Poder. Um Caso: A Voz do Brasil), uma vez que é um programa radiofônico. Nesta parte do questionário, procurou-se descrever e analisar o perfil dos ouvintes, bem como, verificar se as pessoas escutavam rádio, em qual período do dia elas o faziam e qual o tipo de programa os entrevistados revelam preferência.
Por outro lado, procurou-se saber se os entrevistados escutavam o programa em questão, o porquê de escutar ou não “A Voz do Brasil”, o que achavam do programa, o que gostavam ou não, o que precisava melhorar e, para finalizar, investigou-se se os entrevistados gostaram das mudanças implantadas no programa, em primeiro de setembro de 2003.
Ao término da compilação de dados, era necessário que algumas questões fossem solucionadas, como por exemplo: “Qual o perfil do cidadão de Ubá/MG que ouve o programa ‘A Voz do Brasil’?”; “Do que ele mais gosta?”; “O que ele acha que deve mudar?”; “E quanto às pessoas que não ouvem?”; “Porque elas não o fazem?”; “Porque elas não têm motivação para ouvir ‘A Voz do Brasil’?”; “Por fim, quais seriam as modificações necessárias para, além de manter seus ouvintes, o programa “A Voz do Brasil” precisaria para angariar novos adeptos?”. Assim sendo, procurou-se responder a estas perguntas nas próximas seções.
PERFIL DOS OUVINTES
Traçando o perfil dos ouvintes do programa “A Voz do Brasil”, percebeu-se que este universo compreende, 36% de todas as pessoas que responderam ao questionário. Se considerarmos que a média nacional dos ouvintes do programa “A Voz do Brasil” é de em 5%, os ouvintes ubaense estão, relativamente, acima da média.
Vamos, então, traçar um perfil do cidadão ubaense que escuta diariamente o programa radiofônico “A Voz do Brasil”. Do universo de ouvintes, notou-se que 33% dos ouvintes são do sexo feminino, enquanto 67% são do sexo masculino.
As mulheres ouvintes (33%) possuem faixa etária compreendida entre 30 e 50 anos. Deste universo, 50% estão desempregadas e 50% não responderam.
Os ouvintes do sexo feminino, que totalizam 33%, possuem alto índice de escolaridade, ou seja, ou estão cursando o ensino superior ou já o concluíram. Têm o costume de escutar rádio à noite, ou durante todo o dia, mas preferem, essencialmente, programas musicais a programas interativos ou jornalísticos.
Escutam o programa “A Voz do Brasil”, devido à obrigatoriedade da transmissão, ou porque, além de considerar que é um programa fundamental para o brasileiro, procuram se manter informadas.
As mulheres gostam do informativo estatal porque possui notícias dos Três Poderes Constituídos separadas, além da linguagem que é utilizada na realização do mesmo. Elas ainda consideram que as vinhetas precisam ser melhoradas.
Quando indagadas sobre as mudanças implantadas no programa em primeiro de setembro de 2003, elas se dividiram: 50% delas disseram que não perceberam as modificações, e 50%, afirmaram que o programa ficou mais interessante após as modificações.
Já quanto ao perfil dos ouvintes do sexo masculino, 67% do total possuíam idade entre 30 e 50 anos. Deste universo, 75% são autônomos, e apenas 25% trabalham com carteira assinada.
O nível de escolaridade é outro fator difere os homens das mulheres. Apuramos que 75% dos homens que afirmaram ouvir diariamente o programa “A Voz do Brasil” disseram já ter concluído o ensino superior, e apenas 25% completaram somente o ensino fundamental.
Os homens ouvem rádio durante todo o dia, tendo preferência, essencialmente, por programas jornalísticos. Como segunda opção, alguns deles preferem o programa musical ao programa interativo.
As pessoas do sexo masculino afirmaram que escutam o programa para se manterem informados, e consideram “A Voz do Brasil” um programa fundamental para o brasileiro. Mas há quem tenha dito, também, que escuta  programa porque o rádio está ligado.
Os homens gostam do fato de haver notícias dos Três Poderes no informativo estatal, além de apreciarem a linguagem utilizada. Entretanto, como as mulheres, consideram que as vinhetas utilizadas são pouco atrativas. Eles também não gostam da nova roupagem dada à música de abertura (Ópera “O Guarani”), e há quem não tenha aprovado a introdução de uma voz feminina no programa.
Eles consideram que, apesar de já terem sido feitas modificações em primeiro de setembro de 2003, várias melhorias precisam ser implementadas no informativo, como os moles utilizados, as vinhetas, a música de abertura, os locutores e as informações transmitidas.
Quando questionados sobre as mudanças, apenas 25% dos ouvintes diários do sexo masculino, disseram que as mudanças não eram necessárias. No entanto, 50% dos que responderam que escutam o programa diariamente disseram que o programa ficou mais interessante com as modificações.
Após a compilação de dados, verificamos que tanto os homens quanto as mulheres que escutam diariamente o programa “A Voz do Brasil” foram unânimes em dizer que as vinhetas são pouco atrativas. Entretanto consideram o programa fundamental para o povo brasileiro.
PERFIL DE NÃO OUVINTES
Embora possamos considerar que os índices de audiência do programa “A Voz do Brasil” em Ubá/MG sejam satisfatórios (36%), existe uma gama de pessoas que não escutam o informativo eletrônico estatal.
Como 64% dos entrevistados não escutam o programa em Ubá/MG, precisávamos apurar o motivo deste fato acontecer. Conheçamos, então, o perfil dos cidadãos ubaenses que não escutam o programa.
A faixa etária das pessoas que não escutam o informativo radiofônico, segundo compilação de dados, é relativamente baixa. Tanto entre os homens, quanto entre as mulheres os percentuais são os mesmos. No total, a maioria das pessoas que possuem a faixa etária compreendida entre 20 e 30 anos não escutam “A Voz do Brasil”.
Mesmo com a faixa etária relativamente baixa, se compararmos com o mesmo tópico da pesquisa realizada com os ouvintes assíduos do informativo radiofônico, o nível de escolaridade de ambos os sexos, pode ser considerado relativamente alto.
Chegou-se a essa conclusão, devido ao fato de 50% dos homens que não escutam o programa “A Voz do Brasil”, possuírem o ensino superior incompleto e 15% terem concluído o ensino superior. Cinco por cento não terminaram o ensino médio, enquanto 15% concluíram o antigo segundo grau. Deste universo, apenas 15% concluíram só o ensino fundamental.
Quanto as mulheres, também encontrou-se um maior número relativo ao ensino superior incompleto, totalizando 39%. Enquanto 15% das mulheres concluíram o ensino superior, apenas 8% terminaram o ensino fundamental. Com relação ao ensino médio, 19% concluíram o antigo segundo grau, enquanto os outros 19% ainda não terminaram.
Ao considerarmos os dados da questão na qual indagamos às pessoas os motivos pelos quais elas não ouvem o informativo eletrônico estatal , apuramos que 56% das mulheres disseram que não gostam do programa. 20% disseram que não ouvem porque não gostam, e 20% disseram preferir outra distração. Apenas 4% disseram não escutar rádio.
Já 41% dos homens entrevistados disseram não gostar do programa, enquanto 36% afirmaram preferir outra distração. Apenas 5% afirmaram não ouvir rádio e 18% disseram não ouvir rádio porque estão trabalhando na hora de exibição do programa.
Perguntou-se, também, às pessoas que não escutam o programa “A Voz do Brasil” o que, em sua opinião, precisa passar por modificações.
Para 74% dos homens que não escutam o informativo eletrônico estatal, o que mais precisa de melhorias são os locutores. Para 13%, os moldes utilizados deveriam passar por modificações, e 9% acham que são necessárias mudanças na música de abertura. Apenas 4% consideram que as vinhetas precisam de reformulações. A opção “informação dos Três Poderes”, que seriam notícias dos três Poderes Constituídos, não foi citada.
Já 48% das mulheres que não ouvem o programa consideram que os moldes do programa precisam sofrer modificações, enquanto 19% consideram que os locutores precisam de melhorias. Cinco por cento acreditam que as reformulações devem ser feitas no fato de ter notícias dos Três Poderes e 14% consideram que a música de abertura necessite de reformulações. 14% destas mulheres acham que as vinhetas precisam de modificações.
CONCLUSÃO
O rádio é um veículo que tem grande acessibilidade às pessoas. Nenhum outro motivo justificaria a manutenção de um programa como “A Voz do Brasil” por mais de 40 anos.
Neste trabalho, avaliou-se que, ao longo da história, a comunicação, em si, sempre foi muito importante. Desde os primórdios, a comunicação é utilizada de várias formas e diversas finalidades. Desde Platão e Aristóteles, chegando aos tempos de hoje, constatamos que nada seria possível se não fossemos capazes de nos comunicar. Tudo isto é devido ao Poder da Comunicação.
Neste sentido, governantes como Hitler e Vargas, perceberam o grande valor dos meios de comunicação de massa. Adotaram políticas que podemos chamar de “marketeiras”, uma vez que utilizaram o rádio (meio de comunicação da época com o maior alcance) para divulgar suas ações e pensamentos, demonstrando toda a força da Comunicação do Poder.
Assim, entrelaçamos estas duas forças, acima citadas, e as escolhemos para projeto de estudo mais aprofundado, ou seja, estabelecer uma relação entre O Poder da Comunicação e a Comunicação do Poder.
Os ouvintes do programa radiofônico “A Voz do Brasil” são o que podemos chamar “fiéis”. Todos os dias, a partir das 19hs, uma média de 34% dos ubaenses sintonizam as ondas de um programa criado em 1935.
A única razão deste fato acontecer é devido à importância, segundo eles, das notícias repassadas pelos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, pois, ainda segundo a pesquisa realizada, os ouvintes consideram estas informações fundamentais para todo brasileiro que quer se manter informado.
Apesar destas considerações, eles acreditam, ainda, que modificações podem melhorar o programa. As vinhetas, bem como a nova roupagem da ópera “O Guarani” (música de abertura) e a introdução de uma voz feminina, são considerados, pelos ouvintes assíduos de “A Voz do Brasil”, pontos que precisam ser revistos.
Mesmo com os ouvintes pedindo as mudanças citadas, uma boa parcela destes ouvintes consideram que as melhorias implantadas em primeiro de setembro de 2003 deixaram o programa um pouco mais interessante. Em contrapartida, existem aqueles que não perceberam a mudança.
Apuramos, ainda, que 64% dos entrevistados não ouvem o programa. Deste total, 56% das mulheres e 41% dos homens disseram não gostar do programa “A Voz do Brasil”.
Todos as pessoas foram unânimes em dizer que o informativo eletrônico estatal precisa de reformulações. Para as mulheres que afirmaram não ouvir “A Voz do Brasil”, os moldes utilizados no programa precisam ser modificados. Já os homens pensam que os locutores precisam mudar. A preferência por programas musicais é um fator comum entre homens e mulheres que não escutam o programa.
As vinhetas foram o principal alvo de críticas do público. Locutores, mesmo com a introdução de uma voz feminina, e os moldes, mesmo sendo considerados modelos, também foram lembrados. Nem mesmo a ópera “O Guarani”, tema de abertura do noticiário eletrônico, deixou de ser criticada.
As músicas de abertura de todo noticiário devem ser marcantes. A ópera “O Guarani” caiu no “desgosto” popular, mesmo com as reformulações pelas quais passou. O tema de abertura do programa “A Voz do Brasil” ganhou cara nova após ser gravada em vários ritmos, como samba, pop rock, entre outros gêneros musicais.
Estas modificações não foram necessárias para conseguir maiores índices de audiência. Devemos nos ater ao fato de que existem pessoas que sequer perceberam as mudanças, mesmo um ano depois de sua implementação.
Algumas medidas deveriam ser tomadas em relação ao programa. As modificações são essenciais para que o programa consiga um maior índice de audiência.
Retornemos, então, a um passado recente. Quando o Governo Vargas instituiu o programa “A Hora do Brasil”, segundo relatos de pessoas que vivenciaram a época, durante a exibição do mesmo, havia divulgação da Música Popular Brasileira (MPB).
Esse fato fazia com que as pessoas ficassem ligadas no programa, que, desta forma, detinha altos índices de audiência, ou seja, as pessoas, além de terem acesso às informações que eram repassadas pelo governo, ouviam “boa música”, expandindo, assim, a cultura popular.
Na década de 1970, com a criação do Projeto Minerva, mais uma vez, altos índices de audiências foram alcançados. O que atualmente é denominado EAD (Ensino à Distância), já era praticado naquela época, com a pretensão de expandir a educação através do rádio, fato consumado através deste projeto.
Os números divulgados no site da Universidade Federal de Santa Catarina (21), mostram que o projeto aumenta índices de audiência. De outubro de 1970 a outubro de 1971 participaram do Projeto um total de 174.246 alunos; desses, 61.866 concluíram os cursos.
A idéia, a princípio, não é reformular de uma só vez o programa, mas questionar a população, através de pesquisa popular, a ser realizada em todo o território nacional, para que sugiram as modificações necessárias para que os ouvintes assíduos de “A Voz do Brasil” continuem e, não de outra maneira, que as pessoas que não escutam, passem a fazê-lo.
Acreditamos que o objetivo do programa “A Voz do Brasil” é fazer a “ponte” entre o governo e os cidadãos. Uma vez que a parcela de ouvintes, independente da média nacional, ou da média apurada neste estudo, pode ser considerada baixa.
Como a transmissão do programa é obrigatória, e muitas emissoras estão entrando na justiça para ter direito a não executar a retransmissão, concluímos também a partir dos dados colhidos, que a reformulação é inevitável.
O rádio traz características de jornalismo e entretenimento. Por que, então, não aproveitá-las? Unindo estas possibilidades, à medida em que conseguirmos passar para a população que o programa “A Voz do Brasil” não é somente informação dos Três Poderes, mas sim uma ferramenta que os políticos possuem para expandir cultura e educação, através do rádio, único meio de comunicação a chegar aos mais longínquos pontos deste país “continental” chamado Brasil.
Concluindo, somente desta forma, acreditamos que O poder da Comunicação em detrimento da Comunicação do poder faria com que bons índices de audiência e o real objetivo do programa radiofônico “A Voz do Brasil” fossem plenamente alcançados.



REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA

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6)    MOREIRA, Sônia Virgínia. Rádio Palanque – Fazendo política no ar. Rio de Janeiro: RJ,1998.
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14)  www.ibge.com.br  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
15)  www.ibope.com.br IBOPE
17) www.radios.com.br   Site sobre rádios e afins.
18) www.clipinfo.com.br   Site sobre meios de comunicação.
19) www.aesp.com.br   Associação de Emissoras de Rádio e TV do Estado de São Paulo.
20) www.folhaonline.com.br Site do jornal Folha de São Paulo 02/03/04. “Emissoras estão unidas contra a voz do Brasil”.
21) www.eps.ufsc.br Universidade Federal de Santa Catarina
22) www.marplan.com.br MARPLAN


Por: Martim A. C. Barbosa
Técnico em Serviços Públicos – IFET Juiz de Fora
Bacharel em Comunicação Social – Jornalista – FAGOC
Pós Graduado em Gestão da Comunicação Empresarial - FIJ
Aluno do curso de Pós Graduação em Gestão Pública – UFJF

*Artigo publicado na revista científica da Fagoc (2005)