Em primeiro lugar, é preciso definir o
que seja Ética. Pesquisadores do porte de Chaïm Perelman, da Universidade de
Bruxelas, Norberto Bobbio, da Universidade de Milão, e Carlos Alberto di
Franco, da Universidade de Navarra, costumam considerar ética o conjunto das
atividades que refletem valores da sociedade que sejam universais (que se
aplicam a todo o mundo) e atemporais (que se aplicam em qualquer tempo).
No entanto, a atitude considerada
ética às vezes admite variações de enfoque em razão da cultura em que está
inserida. Muitas coisas, apesar de não serem consideradas éticas, continuam a
ser feitas e são até toleráveis num grupo social. Alguns comportamentos
inicialmente considerados pouco éticos acabam se tornando tão corriqueiros que
a lei os transforma em procedimentos corretos – é o que se chama de Direito
Consuetudinário.
É a diferença entre o que é moral e o
que é aceitável. Muitas atitudes, apesar de imorais, acabam sendo toleradas e
passam, ao longo do tempo, a serem consideradas aceitáveis.
As ofertas de empregos, as formas de trabalho e
o perfil do profissional estão, no momento, redefinidos em escala mundial pela
modernização tecnológica e gerencial e pelo ordenamento econômico. São
exigências e transformações impostas no mundo do trabalho e na educação que
prevê a articulação da identidade consolidada na formação do sujeito à
identidade solicitada nas relações de trabalho, como desafio humano de
empregabilidade. O sujeito constituído na relação social marcada, até então
pela estabilidade e dependência, sofre uma desestruturação brutal com o
estável, que se tornou ameaçante e ainda com o instável, que se tornou
valorizante.
Neste sentido, Foucault e Heller denunciam que um saber econômico
se acumulou desde o fim da Idade Média, difundindo-se igualmente pelos domínios
de exercício de poder referente ao saber e ao conhecimento. É preciso que a
subjetividade seja fortalecida no mundo do trabalho, minimizando formas de
dominação e desigualdade de oportunidades, para se conceber como produtor da
vida organizacional e de suas mudanças.
Conceitos como auto-organização, descentralização, liderança,
autonomia, participação, cooperação, moral e outros princípios democráticos,
ilustram os discursos, sejam estes educacionais, gerenciais ou políticos.
Contudo, estes conceitos oportunizam entender a extraordinária complexidade das
organizações modernas, do comportamento humano e das práticas gerenciais.
Porém, estas instituições se
manifestaram inviáveis do ponto de vista capitalista e governamental. Com carga
econômica pesada e estrutura rígida, têm a tendência de desaparecerem ou
sobreviverem precariamente, apesar de sua finalidade ser a não exclusão, mas a
integração do indivíduo à estrutura institucional.
No setor industrial, ele se
encontra ligado a um aparelho de produção. Na escola, a um de transmissão e
produção de conhecimento. Em casas de tratamento, a um de normalização, de
correção ou de internamento – prisão. Enfim, “trata-se de garantir a produção
ou os produtores em função de uma determinada norma”.(Foucault, 1973, p. 92).
Nesta concepção, o poder pode ser necessário para dar sustentação à autoridade,
que diz respeito a uma ordem normativa que regula o comportamento social por
aceitação dos que se submetem ao sistema dela.
Proclama-se o sujeito
autônomo para agilizar o processo social inovador. A dimensão ética educativa
enaltecida pelos programas organizacionais e educacionais é ainda carente de
princípios subjetivos, mais identificada com aspectos objetivos, ou seja, com
produtividade e qualidade. Pode-se afirmar que, a subjetividade ainda se encontra
empobrecida na sua existência como “ser” e valorizada como “dever ser”; é
preciso que a formação pessoal seja contemplada na profissional, numa
integração do ser-fazer-conhecer-conviver.
O
incentivo à capacidade criativa e crítica é uma tentativa de qualificar o
indivíduo nas relações de trabalho. Prega-se a cooperação, embora ainda não
efetivada no enfrentamento com as limitações individuais e institucionais para
implantá-la.
Aprender a lidar com as normas é um trabalho
educacional que exige dedicação, compromisso, responsabilidade, pois cada
pessoa tem que aprender a optar, decidir, discernindo atitudes e exercendo o
princípio da liberdade, o próprio eu, rachando as forças alienantes do poder.
Finalmente, pode-se
concordar com Foucault e Heller, em que a construção do eu supõe a escolha de
princípios e valores, no enfrentamento contínuo com regras funcionalistas,
efetivando a escolha existencial, que é sempre relativamente autônoma, pois
guiada por uma matriz social, seja repressiva ou dialógica.
O varredor de rua que se preocupa em limpar o canal de
escoamento de água da chuva, o auxiliar de almoxarifado que
verifica se não há umidade no local destinado para colocar
caixas de alimentos, o médico cirurgião que confere as suturas nos tecidos
internos antes de completar a cirurgia, a atendente do
asilo que se preocupa com a limpeza de uma senhora
idosa após ir ao banheiro, o contador que
impede uma fraude ou desfalque, ou que não maquia o balanço
de uma empresa, o engenheiro que utiliza o material mais
indicado para a construção de uma ponte, todos estão agindo
de forma eticamente correta em suas profissões, ao fazerem o
que não é visto, ao fazerem aquilo que, alguém descobrindo, não
saberá quem fez, mas que estão preocupados, mais do
que com os deveres profissionais,
com as pessoas.
As leis de cada profissão são elaboradas com o
objetivo de proteger os profissionais, a categoria como um todo
e as pessoas que dependem daquele profissional, mas há
muitos aspectos não previstos especificamente e que fazem
parte do comprometimento do profissional em ser eticamente
correto, aquele que, independente de receber elogios, faz a coisa
certa.
Referências
Foucault, M. (1995). Sobre a genealogia da ética: uma revisão do trabalho. Em Rabinow, Paul; Dreyfus,
Hubert, Michel Foucault. Uma
trajetória filosófica: para além do estruturalismo e da hermenêutica. Rio de Janeiro: Forense Universitária.
Jornal
Carreira & Sucesso
- 25ª Edição http://www.catho.com.br/jcs/inputer_view.phtml?id=510
acesso em 11 de janeiro de 2011
Heller, A. (1998). Além da justiça. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira.
Glock, RS, Goldim JR. Ética profissional
é compromisso social. Mundo Jovem (PUCRS, Porto Alegre) 2003;XLI(335):23
Masi, Domenico de. O Futuro do Trabalho
Fadiga
e Ócio na Sociedade Pós Industrial. Editora UNB e José Olympio. 2000. Rio de Janeiro.
RIOS, T. A. Ética e competência. São Paulo:
Cortez Editora, 1993. p. 86.
Por: Martim A. C. Barbosa
Técnico em Serviços
Públicos – IFET Juiz de Fora
Bacharel em
Comunicação Social – Jornalista –
FAGOC
Pós Graduado em Gestão da
Comunicação Empresarial - FIJ
Aluno do curso de Pós
Graduação em Gestão Pública – UFJF