terça-feira, 22 de março de 2011

A história das artes marciais e o surgimento do Karatê - Parte II

História do Karatê
O Karate teve como berço à ilha de Okinawa, no arquipélago de Riu-Kyu, ao sul do Japão. No final da dinastia Ming, Okinawa passou a ser dominada pelo Japão que, para evitar a reação do povo nativo proibiu o uso de armas. Sob pressão militar, a população buscou, nos utensílios de uso cotidiano e no próprio corpo, meios de defesa (Nakayama, 1987). Surgiram então os primeiros indícios da arte marcial no início chamada de “tode”. Devido à sua localização geográfica, Okinawa recebia comerciantes e visitantes de várias partes do continente. Nessa época, o “tode” (karatê primitivo) era influenciado pelas artes de luta praticadas principalmente na China.
O alvorecer do século XX trouxe consigo o deslocamento do enfoque de luta de sobrevivência para educação física com fundamentação espiritual. O karate deixou de ser ensinado apenas de modo secreto e, em 1916, mestre Funakoshi fez a primeira demonstração pública fora de Okinawa. Mestre Funakoshi é considerado o pai do Karate moderno, por tê-lo aperfeiçoado técnica, literal e filosoficamente (Nakayama, 1987). Ele viajou por todo o Japão e foi convidado a lecionar em Universidades, onde o Karate passou a ser submetido à pesquisa científica, aprimorando técnicas e criando métodos de treinamentos sistemáticos (Silvares, 1987).
Gishin Funakoshi - Criador do Karatê Shotokan

Após o sucesso de Funakoshi, outros mestres de Okinawa foram ao Japão divulgar os seus estilos de Karate. Segundo Okinawa (1985), a fusão do karate com a concepção japonesa de Arte Marcial deu origem a quatro estilos principais conhecidos hoje: Shotokan (Funakoshi), Shito-riu (Mabuni), Goju-riu (Miyagi) e Wado-riu (Otsuka). Após a segunda guerra mundial, a emigração dos japoneses e o grande interesse das tropas de ocupação em aprenderem a lutar, difundiram o karate pelos continentes. Hoje o Karatê, segundo a WKF, é a Arte Marcial mais praticada no mundo.
A ORIGEM DAS ARTES MARCIAIS
Os primeiros indícios de Artes Marciais surgiram no Oriente, muito antes da invenção da escrita. Acredita-se que as técnicas de defesa e ataque tiveram origem na observação dos animais na natureza, partindo da necessidade de sobrevivência e obtenção de alimentos. Nos antigos templos, os monges desenvolveram técnicas de luta sem armas, objetivando saúde e autodefesa, onde, “através de exercícios penosos pretendiam o fortalecimento do corpo para dar morada à paz de espírito e à verdade religiosa” (Sasaki, 1989). As artes marciais foram ensinadas em segredo de mestre para discípulo por séculos, por isso há grande falta de literatura apropriada que descrevam com exatidão a sua história.
A CONTRIBUIÇÃO DA ÍNDIA
Na antiga Índia, há mais de 5000 anos a.C. surgiu uma luta marcial cujo nome em Sânscrito era “Vajramushti”, a tradução literal significa “punho real”, ou “aquele cujo punho cerrado é inflexível”. Era uma arte guerreira, desenvolvida pela casta marcial da Índia chamada Dshastra. Uma Arte Marcial que se desenvolveu simultaneamente com práticas de meditação e estudos dos antigos clássicos da Índia, como os Veda, Gita e os Purana. Tinha por objetivo o desenvolvimento espiritual, físico e de defesa pessoal. Nas origens do Budismo era ensinada junto com as técnicas de meditação Sakiamun.
O Buda era um príncipe e como tal pertencia à classe guerreira dos Dshastras, assim aprendeu o Vajramushti como parte de sua educação militar. Mais tarde, também como guerreiro, ensinava o Vajramushti, visando a unificação da mente com o corpo. Embora Buda o ensinasse como uma prática ascética, que visava a vivência dos preceitos budistas, os monges que se tornaram seus discípulos o apreciavam também como um recurso para a defesa pessoal para enfrentar os perigos daqueles tempos em suas peregrinações.
Quase mil anos depois da morte de Buda, Bodhidharma, que era filho do Rei Sughanda e, portanto, príncipe, aprendeu o Vajramushti de um velho mestre chamado Prajnatara. Tendo se tornado o 28º patriarca do Budismo, viajou à China a convite do Imperador, Lin Wu Ti, que era um admirador do Budismo. Porém, Wu Ti era seguidor de uma linha nova no Budismo, com características ritualísticas e salvacionistas, contrárias às de Bodhidharma, que pregava a meditação e a busca interior. Por esta razão ele viajou ao vizinho reinado de Wei e hospedou-se no Templo Shaolin.
Valorizando o Vajramushti como auxiliar do homem em sua pesquisa interior, os monges budistas se desenvolveram enormemente nesta Arte Marcial e o Templo Shaolin ficou mais famoso como centro de Artes Marciais do que de budismo, efetivamente. O Vajramushti era, no Templo Shaolin, ensinado em segredo, devido ao seu poder como Arte Marcial, e as técnicas somente eram ensinadas às pessoas que entendessem o conhecimento de seu verdadeiro significado.
Com o tempo ocorreu uma cisão nos propósitos do Templo. Conhecimentos de Vajramushti adicionados ao Kung-Fu antigo, originado dos tempos de Huang-Ti, eram ensinados ao povo com nome de Kung Fu Shaolin, com o objetivo de se defenderem do domínio dos oficiais corruptos do governo Manchu. Mas entre os monges Shaolin mantinha-se preservado o verdadeiro Vajramushti, que como recurso à meditação e ao desenvolvimento do espírito passou a ser chamado em chinês “Ch'an Tao Chuan”, ou “A arte dos punhos no caminho da meditação”.
A CONTRIBUIÇÃO DA CHINA
Aproximadamente no ano 2600 a.C. surgia uma forma de combate individual chamado de Go Ti, que teria sido criado por um “Senhor da Guerra” chamado Chi-Yu. Durante os turbulentos séculos VII e VIII a.C. foi escrito no livro “I Ching” que: “Sem as técnicas de luta, um homem é relegado ao posto mais baixo do exército”. Enquanto isso, uma outra forma de evolução acontecia. Monges eruditos descreviam uma série de antigas ginásticas medicinais. Estes exercícios combinavam movimentos e posturas físicas com a respiração para purificar o corpo e o espírito.
O primeiro acontecimento de realce, no começo do século VI, foi o pronunciamento de Confúcio sobre a necessidade de se cultivar as Artes Marciais. A seguinte grande influência na arte aconteceu em torno do ano de 520 d.C., com a chegada do monge budista Bodhidharma, que viera da Índia. Sua chegada trouxe mudanças significativas, influenciando os hábitos não só dos monges como de toda a comunidade.
O conceito de “mente vazia” e outras formas de estilo Zen eram rapidamente incorporadas à arte. Após a morte de Bodhidharma, por volta do ano de 557 d.C., a Arte de Shaolin começou a tomar forma de luta, sendo mais tarde denominado “Shaolin su Chuan-Fa”. Apesar de existirem na China inúmeros estilos de Kung-Fu, a linha de Bodhidharma foi a mais significativa para a evolução do ser humano, influenciando até hoje inúmeros atletas e Artistas Marciais. “Lutar e vencer todas as batalhas não é a glória suprema. A glória suprema consiste em quebrar a resistência do inimigo sem lutar”. Zun Tzu

O JAPÃO E AS ARTES MARCIAIS
As Artes Marciais Japonesas podem se dividir em três períodos: O período do Bujitsu, o do Bugei e o do Budô. No tempo do Bujitsu, existiam as técnicas primitivas de luta que eram usadas nas constantes guerras. Durante o século VII o Japão começou a assimilar a Cultura chinesa, utilizando a sua escrita e seu sistema hierarquizado, surgindo as classes militares. O príncipe Imperial Shotoki Taichu (595 – 621) favoreceu a expansão do Budismo e encorajou a penetração da cultura chinesa no país.
Esta política possibilitou uma verdadeira reforma na administração e nas instituições. O período termina no final do século VIII com o florescimento da civilização de Nara, a primeira capital do Império Japonês. O período Bugei surgiu em conseqüência da necessidade de defesa militar. As práticas Marciais foram mais desenvolvidas, surgindo várias escolas (ryu) e os primeiros mestres conhecidos. Com o estabelecimento do Xogunato, de 794 a 1615, iniciou-se a transferência da capital para Quioto.
É nesta época do século IX e início do século X que enfraquece a autoridade Imperial e, em 1185, a família Minamoto toma o poder. Verdadeiras dinastias de Xoguns tomaram nas mãos o destino do país. Período este que se estendeu até a dominação dos Tokugawa em 1603. Na era Iedo de 1615 a 1868, com os Tokugawa, transferiu-se a capital para Edo, a atual Tókio. No período do Budô, o Shogun, Ieyasu Tokugawa, estabeleceu o seu governo em Edo.
Com poder imenso, instituiu-se no governo passando-o para seus descendentes e trazendo um longo período de paz e tranqüilidade, graças à obediência que exigia dos chefes. Com o domínio Tokugawa, o Bugei passou a ser usado mais como um princípio de educação e ética para se atingir um elevado estado de espírito. A partir daí, a maior razão das Artes Marciais Japonesas passou a ser o aperfeiçoamento dos próprios praticantes. Surge então o Budô (O Caminho do Guerreiro). Os mestres japoneses, temendo talvez o contato com o Ocidente e o choque do mundo moderno, quiseram colocar como importância essencial o Caminho (Dô), trocando os antigos nomes dos bujitsu, tais como ju-jitsu, aiki-jitsu, etc, para judô, aikidô, etc.
Desta maneira esperavam que o grande público não confundisse as artes marciais com os esportes de combate e que o sentido do “Caminho” não se perdesse nos meandros da história. O Budô é a continuação do Bujitsu em dois sentidos: para alcançá-lo e para que ele nos alcance. A busca técnica efetuada desde tempos remotos, pelos Mestres japoneses, se baseou sempre nos princípios de relações complementares que regem o universo. O jogo de forças ativas (yang) e passivas (yin) é posto em prática com uma precisão extraordinária nos movimentos de ataque e de defesa, de maneira que se possa neutralizar o adversário com um mínimo de esforço e um máximo de eficácia.
A INTRODUÇÃO DO KARATE NO JAPÃO
O Karate foi introduzido no Japão na década de 1920. Nessa época, o Karate não tinha, até então, um método de ensino formal e padrão, sendo ensinado por cada mestre segundo o seu gosto particular. Mas para que essa arte vinda da ilha de Okinawa pudesse ser aceita pela sociedade e a cultura japonesa, algumas coisas precisaram ser modificadas. O significado do ideograma (símbolo da escrita japonesa) “Kara”, significava “Chinesa”.
O Tigre - Símbolo do Karatê Shotokan

O karate então se traduzia por “mãos chinesas”. Mas ao longo da história, Japão e China haviam entrado em guerra muitas vezes, por isso o povo japonês não aceitaria algo que pudesse lembrar a China. Então mestre Funakoshi trocou o significado da palavra “kara”, já que os ideogramas japoneses podem ser lidos de duas maneiras (“kun” e “un”) segundo o seu significado ou segundo a sua pronúncia.
O ideograma com a mesma pronuncia “Kara”, com novo significado que não “chinesa” tem origem no termo Sunya ou Sunyata do sânscrito que significa “zero”, “vazio”, e é muito usado na tradição Zen-Budista. Vários dos mestres que queriam introduzir o Karate-Jutsu no Japão decidiram adotar este outro símbolo e também trocaram a expressão “jutsu” (técnica ou arte) por “Do” que deriva da palavra chinesa “tao” (via, caminho). Este nome pareceu, então, apropriado já que descreve uma arte de luta sem armas e também duas características importantes do Zen-Budismo: a “mente vazia” (sem preocupações, ódio, inveja ou desejo) e o “caminho”, a “via” que devemos transitar para chegar a esse estado de iluminação.

Por influência de Jigoro Kano (criador do Judô), que era seu amigo, mestre Funakoshi também adotou o karate-gui, o uniforme branco, e o sistema de faixas e graduações de Kyus (faixas coloridas, da branca até a marrom) e Dans (do 1º ao 10º grau para os faixas pretas) similar ao que era usado no Judô. Também foram adotados novos métodos de treinamento, os katas foram revisados e muitos deixaram de ser praticados, o karatê passou por uma reavaliação, deixando em segundo plano a sua origem guerreira para se tornar um esporte onde pessoas de todas as idades e classes sociais pudessem praticá-lo sem correr riscos à sua integridade física. No ano de 1933, o Dai Nippon Butokukai, órgão japonês encarregado das artes marciais, reconheceu oficialmente o Karate-Do como Arte Marcial.

sexta-feira, 18 de março de 2011

A história das artes marciais e o surgimento do Karatê

A necessidade de defender-se para sobreviver fez com que o homem desenvolvesse diversos gêneros de luta, em diferentes épocas e regiões do mundo. No entanto, um momento e uma região, em especial, marcaram historicamente as artes marciais.
Em meados do século V, Bodhidarma, monge indiano, caminhou para a China a fim de fundar um mosteiro budista. Seguidor do budismo de contemplação, ele desenvolveu técnicas de luta sem armas chamadas Shao-lin-su-kempo. O objetivo era a manutenção da saúde e a auto defesa em que, através de exercícios penosos, pretendiam o fortalecimento do corpo para dar morada a paz de espírito e a verdade religiosa. Essas técnicas foram difundidas pelo território chines.
O intercâmbio comercial e cultural entre a China e as ilhas vizinhas, possibilitou, especialmente em Okinawa, que na época pertencia à China, a introdução das técnicas de lutas chinesas. Ao final, da dinastia Ming, Okinawa passou ao domínio japonês que para evitar a reação do povo nativo, proibiu uso de armas. Sob pressão militar, a população obteve nos utensílios de uso cotidiano e no próprio corpo, como cadeiras, cordas, mãos, joelhos e etc., meios de defesa. Esses utensílios e corpo se transformaram em armas (Nakayama, 1987).
O isolamento japonês no período medieval, nos séculos IX a XIX, contribuiu para que o povo nativo criasse um estilo próprio de luta, diferente de sua origem chinesa. A perseguição exercida pela classe dominante japonesa era tal, que Okinawa (1885) chegou a compará-la a perseguição sofrida pela capoeira no Brasil Imperial.
No inicio do século XIX, com a ruptura do isolamento japonês, surgiram as armas de fogo, inibindo a utilização das lutas de corpo a corpo que quase desapareceram como arte de guerra. O século XX trouxe consigo o ressurgir das artes marciais, deslocando o enfoque de luta para a sobrevivência, para educação física, com fundamentação espiritual.
Considerado o pai do Karate-do moderno, Funakoshi modificou o karate literal e filosoficamente de "Mãos Chinesas" para "Mãos Vazias", mãos de liberdade, em que KARA e TE passaram a ter a conotação de defender-se desarmado e ter a mente livre do egoísmo e da maldade. O karate passou a representar a busca de um caminho (DO) ou disciplina a ser seguida por toda a vida, na construção da personalidade (Nakayama, 1987; Silvares, 1987) dos seus praticantes, fossem novos ou velhos, doentes ou saudáveis.
Cada geração, cada grupo cultural e o estudo científico pelos quais passou, participaram do processo de construção do Karate-do, transformando-o na arte que conhecemos hoje, com uma característica mais esportiva, cujo objetivo maior é que os efeitos da prática transcendam os limites do dojo (sala de treinamento), formando o indivíduo saudável, humilde, cortês, crítico, justo e corajoso, capaz de perceber os fatos e agir objetiva e equilibradamente nas variadas situações da vida. 

quinta-feira, 17 de março de 2011

Dúvidas e esclarecimentos

            Algumas pessoas me pediram para que eu voltasse a escrever, publicasse minhas ideias. Como não atender ao pedido de minha mãe e minha esposa (autoras do pedido), minhas leitoras fieis e favoritas.

            Aí fiquei pensando: vou falar de que neste primeiro post? Pensei em várias coisas: pensei no flamengo! Sou rubro-negro apaixonado, o clube está invicto... mas todo mundo fala do flamengo. Este não seria o melhor momento para colocar no ar apenas mais um texto de um flamenguista fanático.

            Pensei em falar de religião! Mas do que eu falaria? Iria fazer um ctrl+c e ctrl+v em algum texto de alguém com mais sabedoria e estudo? Não. Farei isso com certeza (citando a fonte, claro), mas ainda não é o momento, afinal minhas duas leitoras não queriam ler as minhas considerações, dúvidas ou incertezas neste primeiro texto.

            Cogitei falar dos acontecimentos recentes no Japão. Mais uma vez, seria um trabalho de recorta e cola dos mais variados sites da internet, já que eu não conheço o país pessoalmente (algo que vou providenciar assim que possível).

            Falarei, então, de Karatê. Afinal, pratico esta arte marcial há 22 anos, tenho alguns alunos, conheço algumas coisas. Entretanto, este também não é o momento. Ainda tenho muito o que aprender e poderia soar de forma errônea, soberba, ou algo do tipo.

            Política também passou pela minha cabeça. Falar dos primeiros meses do governo Dilma, dos seus “desencontros” com o PT. Falar do Itamar Franco, Aécio Neves e de outros senadores, bem como de deputados como Antônio Carlos Magalhães Neto, Romário ou o Tiririca. Mas acreditei ser melhor dar tempo aos nossos representantes, para que possamos apresentar um conceito mais maduro.

Depois de tanto pensar no tema, comecei a entender que eu precisava de uma série de respostas em minha vida, antes de emitir qualquer opinião sobre qualquer assunto. E, só desta forma, percebi que são muitas as possibilidades de texto, mas que, neste primeiro momento, é melhor deixar claro que não somos os donos da verdade. Estamos aqui para contribuir com o crescimento de todos, mas não criar paradigmas ou estereótipos de tal maneira a manipular o pensamento da população.

Pensemos antes de escrever, jornalistas são formadores de opinião e, por mais que tenhamos somente dois leitores, faremos alguém pensar no conteúdo escrito.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Sejam bem vindos

Sejam todos bem vindos.
Aqui vou tentar expressar algumas ideias, sobre vários assuntos. Falaremos de tudo por aqui: profissão, Karatê, política, comunicação, cotidiano, enfim...
Este será o espaço dedicado a aqueles que sempre tem uma opinião que diverge da maioria, até por que "toda unanimidade é burra".
Vamos lá... mãos à obra.