A necessidade de defender-se para sobreviver fez com que o homem desenvolvesse diversos gêneros de luta, em diferentes épocas e regiões do mundo. No entanto, um momento e uma região, em especial, marcaram historicamente as artes marciais.
Em meados do século V, Bodhidarma, monge indiano, caminhou para a China a fim de fundar um mosteiro budista. Seguidor do budismo de contemplação, ele desenvolveu técnicas de luta sem armas chamadas Shao-lin-su-kempo. O objetivo era a manutenção da saúde e a auto defesa em que, através de exercícios penosos, pretendiam o fortalecimento do corpo para dar morada a paz de espírito e a verdade religiosa. Essas técnicas foram difundidas pelo território chines.
O intercâmbio comercial e cultural entre a China e as ilhas vizinhas, possibilitou, especialmente em Okinawa, que na época pertencia à China, a introdução das técnicas de lutas chinesas. Ao final, da dinastia Ming, Okinawa passou ao domínio japonês que para evitar a reação do povo nativo, proibiu uso de armas. Sob pressão militar, a população obteve nos utensílios de uso cotidiano e no próprio corpo, como cadeiras, cordas, mãos, joelhos e etc., meios de defesa. Esses utensílios e corpo se transformaram em armas (Nakayama, 1987).
O isolamento japonês no período medieval, nos séculos IX a XIX, contribuiu para que o povo nativo criasse um estilo próprio de luta, diferente de sua origem chinesa. A perseguição exercida pela classe dominante japonesa era tal, que Okinawa (1885) chegou a compará-la a perseguição sofrida pela capoeira no Brasil Imperial.
No inicio do século XIX, com a ruptura do isolamento japonês, surgiram as armas de fogo, inibindo a utilização das lutas de corpo a corpo que quase desapareceram como arte de guerra. O século XX trouxe consigo o ressurgir das artes marciais, deslocando o enfoque de luta para a sobrevivência, para educação física, com fundamentação espiritual.
Considerado o pai do Karate-do moderno, Funakoshi modificou o karate literal e filosoficamente de "Mãos Chinesas" para "Mãos Vazias", mãos de liberdade, em que KARA e TE passaram a ter a conotação de defender-se desarmado e ter a mente livre do egoísmo e da maldade. O karate passou a representar a busca de um caminho (DO) ou disciplina a ser seguida por toda a vida, na construção da personalidade (Nakayama, 1987; Silvares, 1987) dos seus praticantes, fossem novos ou velhos, doentes ou saudáveis.
Cada geração, cada grupo cultural e o estudo científico pelos quais passou, participaram do processo de construção do Karate-do, transformando-o na arte que conhecemos hoje, com uma característica mais esportiva, cujo objetivo maior é que os efeitos da prática transcendam os limites do dojo (sala de treinamento), formando o indivíduo saudável, humilde, cortês, crítico, justo e corajoso, capaz de perceber os fatos e agir objetiva e equilibradamente nas variadas situações da vida.