Dojo Kun é o código de honra do karateca.
São os princípios estabelecidos para contribuir na formação moral do
praticante.
1. “Esforçar-se para a formação
do caráter”
O caráter de uma pessoa é aquilo que
a distingue diante das outras: é aquilo que lhe é próprio. Nosso caráter é
desenvolvido pela educação recebida dos pais, professores, pela cultura de
nosso povo e pelos padrões de comportamento veiculados pelos meios de
comunicação, que tão grande impacto tem exercido no desenvolvimento da pessoa
humana.
No entanto, nosso caráter, isto
é, nossa propriedade, aquilo que nos define diante dos demais, pode ser desenvolvido
não apenas como reflexo de uma educação externa, mas também com a nossa participação
consciente. O Karatê é um processo de autoconhecimento e de investimento no crescimento
pessoal e, como tal, resulta em frutos que podem ser de grande valia para o
indivíduo.
O “caminho do karatê” é o autoconhecimento,
e você terá de estudá-lo com a maior seriedade desde o princípio. O Karateca
deve sempre manter atitudes corretas. Utilizar as técnicas apenas como último
recurso, como autodefesa, em causa nobre. O maior tesouro de um indivíduo é sua
honra, e para ser uma pessoa respeitável, é preciso disciplina.
Tente falar menos e ouvir mais, procure
“aprender a aprender”. Nossa forma de encarar a vida determina nosso destino. Seja
honesto, calmo, sereno, simpático, alegre, sábio, sincero e otimista. Um
karateca de verdade mantém sua palavra, e honra seus compromissos.
2. “Fidelidade para com o verdadeiro
caminho da razão”
Fidelidade tem dois significados:
Em primeiro lugar, quer dizer que nós acreditamos em um determinado princípio.
Em segundo lugar, significa que somos fiéis a esse princípio. Na realidade, o
sentido da fidelidade só é encontrado naqueles que são fiéis, não naqueles que
apenas afirmam que acreditam no princípio.
Quanto à razão, afirma um grande pensador
que ela é o maior bem distribuído entre os homens. Com ela é possível
diferenciar as coisas e adquirir conhecimento. No entanto, ser dotado de razão
não quer dizer que se vive de acordo com a razão: “não basta ter espírito bom,
é necessário dirigi-lo bem”.
O espírito do homem é rico em possibilidades,
mas se for mal dirigido, acabará por negar a sua própria riqueza. A prática do
Karatê nos proporciona o maior fruto do espírito: “o equilíbrio”.
O verdadeiro caminho da razão é sempre
fazer e desejar às outras pessoas o que gostaria que também fizessem a você. O
Karateca deve ignorar o que não é bom, e adotar o bom. Sem que percebamos, a
lei da ação e reação determina nossa vida: tudo o que fizer ou pensar, voltará
para você como experiência. Talvez de uma maneira diferente, mas voltará. Seja
a recompensa, o amor, a felicidade, o castigo, o ódio ou a desgraça. São nossas
ações e pensamentos que atraem os acontecimentos, para o bem ou para o mal.
3. “Criar o espírito de esforço”
Quando vemos uma pessoa apresentando
esforço no rosto, ou algum movimento do corpo, podemos ir mais além e verificar
que o esforço, na realidade, não está no corpo, mas no sentimento interior, no
espírito e no pensamento das pessoas.
Uma pessoa que alimenta ideias de
persistência e de otimismo é alguém que desenvolve o espírito de esforço. Esse
espírito pode ser visto, por outro lado, em rostos e corpos que não aparentem o
menor movimento, porque o espírito tranquilo gera energias, enquanto o espírito
exaltado e agitado as consome.
No Karatê, aprende-se a lidar na vida
com calma, porém com firmeza, e é nisto que consiste o espírito de esforço: não
no esgotamento da força, mas no estágio mais desenvolvido de nosso espírito, na
sua conservação e na geração de serenidade e de tranquilidade.
Onde há esforços não há
violência. Este esforço pode ser traduzido na sentença de Funakoshi: “Nós não aprendemos
para lutar, nós lutamos, isto é, nos esforçamos, para aprender”. O espírito de
esforço é a força do espírito. O intuito de esforço e persistência nos mostra
que tudo é possível. Você precisa acreditar que, se outros podem, você também
pode.
Se você tem um sonho, não importa
o tamanho dele, ele pode ser alcançado. Precisamos nos esforçar da maneira correta
e persistir muito, a ponto de nunca desistir diante dos obstáculos. A principal
diferença entre as pessoas de sucesso e as que sempre fracassam está na
persistência: “Caia dez vezes, e levante-se onze”. Nunca desista, e será um
vencedor! O sucesso não ocorre por acaso, existem razões bem mais sólidas do que
a sorte para realizarmos os nossos sonhos.
O grande segredo é sabermos exatamente
“aquilo” que desejamos, então definimos metas e objetivos a serem executados;
definimos um plano de ação. “Quem não sabe para onde vai, não chega a lugar
nenhum”. Devemos sempre escrever nossos objetivos. Por exemplo: Em 2016 serei
Faixa Preta de Karatê (ou campeão mundial, farei faculdade, terei minha casa
própria, serei saudável, vou me casar, etc.).
Agora, devemos colocar a
imaginação para funcionar; A imaginação aliada à força de vontade chama-se fé.
A fé é capaz de realizar qualquer feito, transformar qualquer sonho em realidade.
Precisamos imaginar nosso objetivo já concretizado. Isto é ensinado há muitos
anos pelos grandes mestres: Quando você
decide ser ou ter algo, precisa ter certeza de que já conseguiu, antes mesmo de
começar.
Em um combate, vencerá aquele que
estiver determinado a lutar totalmente: “Ouse fazer, e o poder lhe será dado”.
4. “Respeito acima de tudo”
Apesar dos Códigos legais imporem
penas aos que desrespeitam seus semelhantes, eles não têm possibilidade de
alcançar o interior das pessoas e influenciá-las, isto é tarefa dos educadores.
O Karatê como atividade educativa, tem como princípio levar o indivíduo a perceber
a si mesmo e o seu semelhante, não só isso, mas, também, conscientizá-lo do valor
do Respeito, não só ao semelhante, mas a si mesmo. O Respeito pelo outro não
significa uma anulação do próprio ego e o respeito por si não quer dizer a
anulação do outro.
Uma pessoa pode desrespeitar a si
mesma, adotando comportamentos agressivos para com seu próprio corpo, ou para
com seu espírito: é sempre adequado indagar qual a finalidade das decisões que tomamos
em relação ao nosso bem estar e ao nosso desfrute sadio da vida. Podemos evitar
maus alimentos, más conversas, maus ambientes, más leituras e maus hábitos.
Assim, estaremos conservando o respeito por nós mesmos.
Por outro lado, uma pessoa pode também
respeitar a seu próximo, não porque os Códigos Legais são punidores, mas porque
todo ser humano tem um valor como pessoa e porque a “boa vontade” é uma virtude
do espírito que pode ser desenvolvida e aperfeiçoada. O Karatê é uma maneira de
se chegar a ela e ao respeito. Desse ponto de vista, o Karatê apresenta uma grande
utilidade para o desenvolvimento humano e a paz social e política, não só entre
os cidadãos de um mesmo país, mas entre todos os homens e todos os países.
O Karatê começa e termina com cortesia.
O respeito deve ser uma atitude contínua do estudante do Karatê. Do cumprimento
dos lutadores, no início e final de uma luta, até as regras de etiqueta e convivência
social. As boas maneiras são o melhor exemplo para todos, nenhuma palavra vale
mais do que atitudes. O karateca deve manter o mesmo padrão de comportamento dentro
e fora do Dojô.
5. “Conter o espírito de
agressão”
Se por um lado, o espírito tranquilo
gera energias e serenidade, o espírito exaltado e agitado gera agressividade,
contra a própria pessoa e contra os outros. O lutador de Karatê é ponderado e prudente.
Ele aprende que os Kata começam com defesas e que no Karatê não há golpes de
agressão. O principal objetivo da arte do Karatê não é o outro como alvo, mas a
própria pessoa. Isto vai provocar uma caminhada para a consciência de si mesmo
e para a superação de aspectos negativos do comportamento e da mente.
Na realidade o Karatê é uma
reeducação da mente e dos padrões de comportamento. Quando se diz: “Conter”,
afirma-se que o homem é capaz de mudar os padrões de pensamentos agressivos em pensamentos
de respeito e equilíbrio. A prática do Karatê vai aos poucos, modificando os
padrões de pensamentos e substituindo os pensamentos de agressão por pensamentos
de harmonia.
Os Kata iniciam sempre com
defesas. Assim, o Karateca deve adotar a “não-violência”, sempre dominando sua agressividade.
O bem e o mal existem, mas vencerá aquele que você mais alimentar. A paz está
em seu interior, e vencer a si mesmo é mais difícil do que vencer os outros.
Você precisa buscar o autoconhecimento:
lendo livros, assistindo palestras, ouvindo CDs de relaxamento e praticando
Zazen (meditação – esvaziar a mente). Somente o treinamento físico não é suficiente,
pois se assim fosse, um praticante de qualquer outro esporte seria uma pessoa
altamente desenvolvida espiritualmente. O karatê é um caminho, não o único, mas
um dos melhores para a revelação interior, para transcender os dualismos. O
treinamento físico é um meio de educação e disciplina, o caminho da paz.