Eu havia prometido que não iria
escrever sobre as manifestações. Afinal, para um jornalista que já foi chamado
de petista e de tucano, qualquer opinião manifestada poderia ser uma catástrofe.
Visto, porém, que o país se mobiliza contra uma série de fatos ocorridos na
história recente do Brasil, pensei: “não posso ficar de fora. Tenho que
contribuir!”
Mas como eu iria contribuir? Indo
às ruas? Servindo de escudo para vândalos que se escondem atrás dos
manifestantes, aproveitando uma cobrança legítima para promover a destruição
das ideias? Não. Um jornalista tem um dever que norteia nossa profissão: reportar
fatos e promover a conscientização ideológica.
Minha presença nas ruas não irá
fazer falta, afinal a Polícia Militar dirá que tinha mil pessoas no ato, os
organizadores dirão que haviam 10 mil participantes, e empresas de
recenseamento afirmarão que são mais de 100 mil pessoas. No fim, uma a mais,
uma a menos, não fará falta.
Mas posso contribuir no campo das
ideias. Posso revigorar a memória de um povo sofrido, que prefere esquecer sua
própria história por ter vergonha dela, por entender que podemos avançar
sempre, por ter a certeza de que nós somos os donos de nossas ações e, mesmo
que tardiamente, podemos cobrar a conta com juros e correção.
Há poucos anos, a população foi às
ruas para pedir o impeacheament do então presidente da República, Fernando
Collor de Melo. Embora há quem diga que orquestrados (ou não) pela população (oposição
e meios de comunicação), os jovens foram às ruas e não saíram de lá enquanto o Congresso
não aprovou a cassação do mandato e dos direitos políticos daquele senhor que
bloqueou o dinheiro do povo. Ponto para a população. Conseguimos! Vimos que
somos capazes.
A história seguiu. E com ela, veio
uma série de escândalos (privataria tucana, mensalão petista, entre outros).
Mesmo indignados, seguimos com as nossas vidas, aprendendo a entender novas
ferramentas. Era chegada a era da informática, a globalização da internet e a
forte presença dos jovens nas redes sociais (Orkut, MSN, ICQ, Facebook, etc),
demonstrava (aparentemente) que nosso país estava condenado à estagnação
intelectual, já que o ambiente virtual era utilizado para difundir quase tudo,
menos ideologia.
Veio a escolha para o Brasil ser o
país sede da copa e das olimpíadas. Chegaram as eleições novamente, e optamos
pela continuidade do projeto de governo que estava no poder. Não importa em
quem você votou, o governo escolhido pela maioria é o governo de todos. Importa,
sim, aqueles que deixaram de votar, aqueles que optaram por permitir que outros
escolhessem seus representantes. Sim! ELES TE REPRESENTAM!
A base da democracia é a escolha de
nossos governantes através do voto. Eles foram eleitos representantes da
população, através de um sistema eleitoral estabelecido na Constituição Federal
de 1988, criada através de uma Assembleia Constituinte, na qual também elegemos
os representantes para sua elaboração.
Votar nulo ou em branco é direito
garantindo por lei. Mas aceitar que votou sem conhecer, votou porque ganhou um
saco de cimento, votou porque participou do churrasco, votou porque ganhou
emprego durante a campanha eleitoral, votou porque era bonito, votou porque era
mulher, votou porque era filósofo... Temos que valorizar nosso voto. É a
principal arma que temos. Já percebemos que nossa justiça é lenta (até bem
intencionada, mas lenta). O ficha-limpa não pegou, condenados ainda exercem
mandatos, o salário dos deputados cresce, o salário mínimo estagnado, gastam
bilhões com estádios para a Copa, desviam bilhões da saúde e educação... Onde está
a nossa justiça.
Você recebe bolsa família? Sabe da
importância deste programa? Sabia que ele deveria ser temporário e não fonte de
renda permanente? Pois é. Somos um país sem informação e nem sempre a culpa é dos jornalistas. Não adianta termos
internet 4G nas capitais, se no interior dos estados mal tem acesso discado em
algumas cidades.
Vamos mostrar, sim, a nossa indignação
e ir às ruas manifestar nossa opinião, direito garantido na Constituição. Mas
vamos sem bandeiras de partidos... Os mesmos que apoiam os movimentos hoje,
podem nos fazer ir às ruas novamente amanhã. Lembram do Collor? E dos partidos que
apoiavam os jovens?
Temos que aprender a participar da
democracia brasileira. Ah, eu não gosto de política! Então o que você está
fazendo nas ruas? Sim! Você está participando ativamente da vida política do
nosso país. Nas próximas eleições, vamos ver o horário eleitoral gratuito
(afinal, pagamos por ele). Vamos escolher nossos representantes com hombridade
porque, sim, ele te representa (se você votou no tiririca, ninguém pode fazer
nada, foi você que escolheu).
Você está percebendo!? Somos
capazes de mudanças. Várias. Seja através de cartazes, manifestações, post’s, scrap’s,
compartilhamentos... Aprendemos, finalmente, o real sentido de redes sociais.
Os protestos começaram nas capitais, mas é o interior que move o país. Vamos pintar
novamente as ruas do Brasil (sem bandeiras partidárias). Vamos mostrar que
somos um povo capaz de nos indignar, capaz de ter memória, capaz de ter vontade
própria, capaz de assumir as rédeas do nosso país...
Eu
sou jovem, tenho pouco mais de 30 anos e fui um cara-pintada. Sou capaz de
pensar e discutir minhas ideias. Sou capaz de mudar meus pensamentos e meu
país. É... mais tarde eu vou pras ruas... #vemprarua